São Paulo, domingo, 19 de fevereiro de 1995
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A escola e a vida

CLÓVIS ROSSI

A escola e a vida
SÃO PAULO - Deu nos telejornais noturnos da sexta-feira:
Cena 1, do "Telediário" da Televisão Espanhola - O juiz de menores da cidade de Zaragoza pune um casal com sete dias de detenção e perda provisória do pátrio poder sobre o filho. Motivo: as faltas do garoto à escola superaram 30% das aulas.
A pena só não será executada se os pais demonstrarem mensalmente ao Juizado que a criança voltou a frequentar a escola com regularidade.
Cena 2 - O "Jornal Nacional" da Rede Globo, com quase uma semana de atraso, descobre a cidade alagoana de Teotônio Villela. É a cidadezinha que bate o recorde de mortalidade infantil, conforme mostrou belíssima reportagem de Gilberto Dimenstein na Folha de domingo passado.
O contraste já seria brutal mesmo que se pudesse, por um instante, esquecer que no Brasil existem cidades como Teotônio Villela. Afinal, não passa pela cabeça de ninguém neste país punir os pais se os filhos não vão à escola.
Mas, quando se introduz as Teotônios Villelas do Brasil na história, o constrate é esmagador. Na Espanha, o pai que permite que o filho falte demais à escola pode pegar até cadeia. No Brasil das Teotônio Villela, o pai que consegue fazer os filhos chegarem pelo menos à idade escolar já é um abençoado.
É importante observar que a comparação com a Espanha é, talvez, a única que se pode fazer sem distorções muito grandes. Trata-se de um país com uma economia mais ou menos do mesmo tamanho da brasileira. É claro que cada espanhol é umas quatro vezes mais rico do que cada brasileiro, pois a população é mais ou menos quatro vezes menor.
Esse impressionante abismo demonstra o tamanho do esforço que se terá de fazer para colocar o Brasil no caminho adequado. Não adianta simplesmente decretar que a educação é a prioridade um do governo e pedir o envolvimento da sociedade.
É preciso também criar as condições para que, mais cedo do que tarde, algum juiz de menores do Brasil puna pais que não levam os filhos à escola, sem ser por isso considerado um completo demente.

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