São Paulo, domingo, 19 de fevereiro de 1995
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Educação e progresso

ANTONIO ERMÍRIO DE MORAES

Com as duas aulas simbólicas com que abriu o ano escolar, o presidente Fernando Henrique Cardoso deixou claro que a educação é a mais alta prioridade de seu governo tendo precedido, até mesmo, a reforma da Constituição.
O importante é que suas boas intenções se transformem em ações. A situação da nossa educação é simplesmente calamitosa. Estamos bem atrás dos nossos concorrentes internacionais. A Coréia, por exemplo, acabou por completo com o analfabetismo na década de 70, tendo generalizado a educação secundária em meados dos anos 80.
Esse extraordinário feito se deu em 30 anos. Hoje em dia, a força de trabalho coreana possui, em média, dez anos de escola —e boa escola— enquanto que a brasileira possui apenas 3,5 —e má escola. Estamos acima da Turquia, Arábia Saudita, Tunísia, Egito, Marrocos e Botswana, é verdade. Mas isso não conforta muito. Temos de olhar para os nossos concorrentes. Na Coréia, 99% das crianças entram e completam o primeiro grau. Cerca de 80% passam para a escola secundária e 38% para a universitária. Entre nós, são apenas 20% as crianças que completam o primeiro grau; 16% vão para a escola secundária e 11% chegam à universidade. É uma diferença brutal. Não é fácil competir nessa base.
O progresso na educação determinou o padrão de desenvolvimento no caso da Coréia. No início da disparada educacional, aquele país se concentrou em produtos que demandavam muito esforço físico e bastante trabalho manual.
Com o avanço da educação, os produtos foram intensificando o uso da inteligência e do capital. Hoje, produz e exporta computadores, teares sofisticados e vários tipos de aparelhos eletrônicos de enésima geração. Nessa trajetória, a sua renda "per capita" saltou de US$ 690 em 1960, para US$ 8.500 em 94, levando-se em conta o conceito de poder de compra usado pela ONU.
Não é só isso. A Coréia viveu muitos anos com salários baixos. Afinal, a produtividade de uma mão-de-obra mal preparada é sempre precária. Hoje, a Coréia se recusa a continuar ostentando o galardão de um país que tem vantagem comparativa na baixa remuneração do trabalho. Os salários têm subido ano a ano. Os coreanos que trabalham na indústria ganham, em média, duas vezes mais do que os brasileiros. E a sua produtividade é de Primeiro Mundo como decorrência de uma boa educação geral e profissional.
A grande diferença entre Brasil e Coréia está no campo de qualidade. O governo está certo em querer melhorar nossas escolas. Mas, para que as boas intenções se tornem realidade, o governo precisa mostrar um caminho que redunde claramente em resultados práticos. Será essencial redirecionar os recursos educacionais para a melhoria do ensino fundamental; aperfeiçoar também o ensino de segundo grau; e reduzir substancialmente o que se perde nas burocracias do sistema educacional. Só assim poderemos sair do atual círculo vicioso da pobreza e entrar no círculo virtuoso do desenvolvimento econômico, individual e social.
Com tudo isso e com o bom uso de metodologias pedagógicas modernas (videotapes, TV, currículo integrado, etc.) os educadores garantem que o Brasil poderá fazer em dez anos o que a Coréia fez em 30. Nada mais justo do que dar à educação a mais absoluta prioridade esperando-se que desta vez, esse programa, realmente, se concretize.

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