São Paulo, segunda-feira, 20 de fevereiro de 1995
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Aquecimento global espalha infecções

CLÁUDIO CSILLAG
ENVIADO ESPECIAL A ATLANTA

A discussão sobre o aumento global da temperatura ganhou uma previsão pouco usual, durante a 161ª reunião da Aaas (Associação Americana para o Avanço da Ciência), que está sendo realizada em Atlanta, na Geórgia.
Uma elevação da temperatura média em todo o planeta pode significar não só um aumento do nível do mar, mas também uma mudança na distribuição de doenças infecciosas.
Nessa óptica, a malária vai passar a ser um problema importante de saúde pública no sudeste brasileiro. Isso porque o mosquito transmissor do parasita que causa a doença vai "gostar" das temperaturas mais altas que a região deverá apresentar.
Em uma das 150 apresentações do congresso, especialistas em mudança de clima debateram as maneiras de prever mudanças na temperatura global.
Gerard Bond, da Universidade Columbia, em Nova York, afirmou que o clima da Terra tem oscilado em ciclos "rápidos" de 2.000 a 3.000 anos, com o desprendimento regular de icebergs no Atlântico Norte (verificado pelas partículas que eles carregam, as quais, depois, se depositam no fundo do oceano).
"Há indícios claros que mudanças climáticas importantes podem ocorrer dentro de poucas décadas", disse Bond.
"Precisamos determinar o mecanismo delas, para nos preparar para os efeitos potenciais", declarou.
A redistribuição das infecções no mundo, discutida por Robert Watson, presente na conferência, está entre esses efeitos potenciais.
O mosquito transmissor da malária pode "invadir" áreas atualmente muito frias para ele.
O litoral do sudeste e o sul do Brasil, por exemplo, vão se tornar áreas de risco.
Associar mudanças climáticas à distribuição de doenças não é novidade. Em 1993, cientistas sugeriram que a epidemia de cólera na América do Sul tenha sido estimulada pela corrente quente no oceano Pacífico, o El Niño.
O El Niño teria propiciado o florescimento de microrganismos que levam o vibrião do cólera, facilitando a transmissão da doença.
Para os cientistas, a esquistossomose (transmitida por caramujo) e a febre amarela (mosquito) também devem chegar a novas áreas.

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