São Paulo, segunda-feira, 20 de fevereiro de 1995
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Congresso herda 'entulho' legislativo

MPs e vetos antigos ameaçam reforma

LUCIO VAZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O presidente Fernando Henrique Cardoso terá que reeditar hoje uma medida provisória (MP) que trata da obrigatoriedade da iodação do sal destinado ao consumo.
Esta MP faz parte do entulho legislativo herdado pelo novo Congresso, onde estão incluídos 60 MPs e 134 vetos. Há vetos sobre leis que dão nomes a rodovias, criam datas comemorativas e regulamentam a profissão de fotógrafo.
Outras MPs tratam de liberação de recursos para combate aos efeitos da seca, distribuição de alimentos a pessoas carentes e venda de carros populares. Todas as MPs foram editadas originalmente pelo ex-presidente Itamar Franco.
O líder do governo no Congresso, deputado Germano Rigotto (PMDB-RS), teme que a votação dos vetos e MPs atrase ainda mais a reforma constitucional. "Este espólio é herança do antigo governo e do velho Congresso", afirma.
Há também temas relevantes aguardando votação. O veto mais polêmico, de autoria do presidente Fernando Henrique Cardoso, derruba o salário mínimo de R$ 100,00.
Pode haver impasse na votação das MPs que tratam da criação do real (sétima reedição), das mensalidades escolares (10ª reedição) e da Advocacia Geral da União (14ª reedição).
Na reunião com os líderes do governo e dos partidos aliados, na última quinta-feira, FHC pediu a votação das MPs que já estão no Congresso e prometeu reduzir o número de novas edições.
"Eu gostaria que limpassem a pauta. Está caindo sobre nós o ônus da reedição. Quem vê o Diário Oficial, pensa que estamos editando novas medidas provisórias", comentou o presidente.
FHC terá que reeditar hoje, por exemplo, a MP 834, que altera o artigo 1º da lei 6.150, de 1974. Esta é a lei que trata da obrigatoriedade da iodação do sal destinado ao consumo.
Rigotto explica por que estas reedições são necessárias. "Sem a reedição, ficamos sem a lei e sem a regulamentação dos efeitos causados pela MP nos últimos meses. Isso pode gerar recursos de empresas ao Judiciário, com prejuízos para a União."
O líder do governo afirma que o acúmulo de MPs é resultado da regulamentação deficiente deste instrumento. "Como pode reeditar, o governo não negocia com o Congresso. O Congresso fica irresponsável porque sabe que o Executivo reedita se a matéria não for votada."
Ele passou o fim de semana debruçado sobre um calhamaço de MPs e vetos presidenciais. Vai separar o que é consensual do que é polêmico e fazer uma proposta de pauta de votação aos líderes partidários.

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