São Paulo, terça-feira, 21 de fevereiro de 1995
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Máfia da Itália abole o ritual do beijo

DAS AGÊNCIAS INTERNACIONAIS

Os mafiosos não se beijam mais. Os chefes da Máfia ordenaram que os membros da principal organização criminosa italiana não se saúdem mais com beijos no rosto e aboliram alguns rituais de afiliação que existiram durante séculos, segundo jornais italianos.
O objetivo seria evitar a identificação de novos membros por delatores, policiais infiltrados ou pessoas de fora da Máfia.
Os rituais de afiliação abolidos incluem o juramento de fidelidade que um novo membro presta diante de chefes e membros da Máfia.
Em alguns clãs o novo membro queimava a imagem de um santo enquanto dizia: "Que eu morra no fogo se trair" a organização.
Outros clãs usavam espetar o dedo do novato para que ele assinasse com sangue seu juramento.
Também foi abolido o uso da frase "É a mesma coisa" com a qual membros da Máfia se identificavam quando apresentados.
Além de saudação entre mafiosos o beijo era usado como sinal de que um acordo havia sido selado. O beijo na mão é também sinal de respeito entre mafiosos.
É um desses beijos que a promotoria de Palermo investiga como evidência contra Giulio Andreotti, sete vezes premiê da Itália.
Baldassare Di Maggio, ex-guarda-costas do chefão Totó Riina e informante da polícia, disse ter visto Andreotti beijar o mafioso numa reunião em Palermo em 87.
Andreotti é acusado de ser membro da Máfia ou de ter defendido os interesses da organização em Roma. Riina está preso. Andreotti nega ter havido o encontro.
O jornal "Il Messaggero" disse que "a abolição dos rituais de afiliação apontam para o nascimento de uma nova Máfia, feita de pequenas células cujos poucos membros só são conhecidos por seus respectivos chefes".
Estruturas semelhantes são usadas por organizações terroristas para impedir que a descoberta de uma célula leve a informações sobre a organização inteira.
Riina teria sido o primeiro chefão a abolir os ritos de afiliação em seu clã. A polícia acredita que a Máfia está mudando sua organização depois dos golpes sofridos graças aos "arrependidos".
"A Máfia foi atacada de dentro e isso é algo que nunca havia acontecido", disse Gianni De Gennaro, que chefiou a unidade anti-Máfia da polícia até 94. "Muitas regras foram violadas, regras nas quais residia sua força".

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