São Paulo, terça-feira, 21 de fevereiro de 1995
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Escândalo ameaça candidatura Balladur

ANDRÉ FONTENELLE
DE PARIS

Um escândalo que parecia pequeno, envolvendo o financiamento ilegal de um partido do governo, ameaça atingir o premiê francês, Edouard Balladur a dois meses da eleição à Presidência.
O ministro do Interior, Charles Pasqua, e o próprio gabinete do primeiro-ministro estariam envolvidos em uma manobra para tirar o caso das mãos de um juiz.
Ontem, o diretor-geral da Polícia Judiciária, Jacques Franquet, pediu demissão e assumiu toda a responsabilidade pela manobra.
Mas o escândalo, que está sendo comparado ao Watergate (que derrubou o então presidente dos EUA, Richard Nixon em 74), ganha a cada dia maiores proporções.
A PJ teria usado grampos telefônicos para impedir o juiz Eric Halphen de prosseguir suas investigações em um caso de financiamento ilegal da RPR (Reunião pela República) no Departamento de Hauts-de-Seine (periferia de Paris), reduto de Pasqua.
A vítima do grampo foi Jean—Pierre Maréchal, sogro do juiz. Segundo Didier Schuller, político próximo de Pasqua, Maréchal lhe teria pedido cerca de US$ 190 mil para convencer o genro a abandonar o caso.
Schuller acionou a PJ, que grampeou o telefone de Maréchal. Depois, marcou encontro com Maréchal no aeroporto Charles de Gaulle em 20 de dezembro.
Lá, Schuller entregou uma mala de dinheiro a Maréchal, que foi preso em flagrante. Imediatamente o governo anunciou que tiraria a investigação das mãos de Halphen.
Os inimigos do juiz, no entanto, não contavam com a reação contrária. Maréchal clamou inocência. O presidente François Mitterrand decidiu pedir o parecer do Conselho Superior da Magistratura.
Os juízes concluíram que Maréchal fora vítima de uma manobra, que o grampo era ilegal e que Halphen devia continuar com o caso.
A decisão irritou Pasqua, que passou a ser alvo de suspeitas. Como ministro do Interior, ele é chefe da polícia. Ele teria se aproveitado dessa condição para interferir em um caso que pode envolvê-lo.
O caso ganhou nova dimensão domingo, quando a revista "Le Point" revelou que a autorização do grampo telefônico fora dada pelo próprio premiê. Balladur, que dissera que tudo fora feito dentro da lei, decidiu suspender os grampos telefônicos, mesmo os legais.

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