São Paulo, quarta-feira, 22 de fevereiro de 1995
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Governo prepara revisão de tarifas telefônicas

ELVIRA LOBATO
DA REPORTAGEM LOCAL

O ministro das Comunicações, Sérgio Motta, afirmou ontem à Folha que fará mudança geral nas tarifas dos serviços telefônicos. A proposta é aumentar as tarifas das chamadas locais e diminuir o custo das ligações internacionais.
Em outubro do ano passado, na semana da eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República, o ex-presidente Itamar Franco reduziu em 5% as tarifas das chamadas locais, em 50% as tarifas dos interurbanos para horário noturno e em até 20% o custo das ligações internacionais.
Motta disse que as tarifas telefônicas têm sido pouco enfocadas, mas estão em situação "dramática". "As ligações internacionais são muito caras e as chamadas locais são baixíssimas", afirmou.
O ministro qualificou de "demagógica" a redução das tarifas locais no ano passado, mas disse que não chegou a agravar o desequilíbrio tarifário do sistema Telebrás que já era muito grande.
Segundo Motta, um grupo de trabalho já está encarregado de repor a "a realidade tarifária", mas não antecipou o impacto que a revisão provocaria no custo das chamadas locais.
Segundo ele, será preservada uma tarifa social para telefônicos públicos e estimulados os telefones de uso comunitário.
Ao propor a revisão das tarifas, o governo tem dois objetivos imediatos: conter a perda de recursos da Embratel nas chamadas internacionais e preparar o terreno para os investimentos privados que virão após a quebra do monopólio estatal das telecomunicações.
Atualmente, o custo de uma ligação do Brasil para os Estados Unidos é cerca de 60% maior do que a dos EUA para o Brasil. Essa diferença tem levado a Embratel a perder cerca de US$ 50 milhões por ano.
Grandes empresas descobriram um sistema —chamado "call back"— de driblar a alta tarifa brasileira. Com a ajuda de empresas prestadoras de serviços baseadas sobretudo em Miami, elas conseguem fazer as ligações para cobrança nos EUA —onde a tarifa é menor.
Segundo o ministro, a mudança tarifária também visa preparar o sistema para atrair o capital privado. Na forma atual, diz ele, o capital privado tem interesse apenas na telefonia celular, onde as tarifas são altamente lucrativas.
Motta disse que o Ministério trabalha com a expectativa de aprovação da quebra do monopólio estatal das telecomunicações no prazo de 150 dias. Ele voltou a criticar o modelo de privatização das telecomunicações adotado pela Argentina, onde os serviços básicos de telefonia, que eram monopólio estatal, passaram a ser prestados por apenas duas empresas.
"Não queremos privatizar o monopólio, queremos livre competição. Argentina não conseguiu estabelecer competição e dividiu o país em dois", declarou.
Motta diz que o governo Fernando Henrique não tem "compulsão liberalizante" e quer para o Brasil um modelo semelhante ao dos Estados Unidos que "têm um discurso extremamente liberal para fora e preservador dos recursos naturais, para dentro da sociedade".

Texto Anterior: Parlamentares dão emprego a parentes
Próximo Texto: Primeira-dama toma posse sem citar metas
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.