São Paulo, quarta-feira, 22 de fevereiro de 1995
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Compositores criticam sambas 'frenéticos'

FERNANDO PAULINO NETO
DA SUCURSAL DO RIO

Sambistas como Paulinho da Viola e Martinho da Vila estão insatisfeitos com as mudanças nos desfiles das escolas.
Essas mudanças aconteceram principalmente a partir da inauguração do Sambódromo, em 1984. O andamento dos sambas-enredo se tornou mais rápido e o coro dos componentes das escolas é hoje abafado pelo potente sistema de som do sambódromo.
Paulinho da Viola, que volta a desfilar na Portela depois de dez anos, diz que, apesar de saber tocar todos os instrumentos de percussão de uma bateria, não consegue acompanhar o ritmo "frenético" dos novos sambas-enredo.
Martinho da Vila, da ala de compositores da Unidos de Vila Isabel, também defende o samba tradicional. Ele encontra, porém, uma explicação para a mudança no andamento dos sambas."A vida está mais rápida mesmo", diz.
Mas para Martinho, a modificação mais importante foi o fim do coro dos componentes das escolas. "Essa foi a grande mudança."
O pesquisador da história do samba Sérgio Cabral também lamenta as mudanças. Para ele, o coro era "um teste de eficiência", pois os componentes tinham que saber o samba, cantar com animação sem "atravessar". A mudança no andamento do samba, que chega a um ritmo de marcha, "é insuportável e intolerável", afirma.
Cabral defende a diminuição do número de componentes das escolas para cerca de mil. Hoje são cerca de 4.000. "Tem que deixar para desfilar a elite do samba, que sabe o que está fazendo", diz.
O diretor de harmonia da União da Ilha, Jorginho do Império, diz que o samba rápido é uma exigência do tempo exíguo do desfile. O ideal seria que uma escola tivesse duas horas para desfilar, afirma.
Os passistas Gargalhada (Mangueira), Carlinhos Café (Arranco), Vitamina (Salgueiro), Moisés Francisco (União da Ilha) e Gilson (Portela) anunciam que vão desfilar pela última vez por considerar que as escolas não permitem mais seu tradicional bailado.

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