São Paulo, quarta-feira, 22 de fevereiro de 1995
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Irons é o senhor do labirinto

INÁCIO ARAUJO
DA REDAÇÃO

"Cidadão Kane" hoje está em quase todo filme que se preze. As questões que instituiu dizem respeito à possibilidade (ou não) de contar uma história, de dar conta da vida de um homem, de captar a verdade de um fato através de suas imagens.
Um desses respeitáveis filhotes de "Kane" é "O Reverso da Fortuna" (Globo, 0h), de Barbet Schroeter. Na base, existe a história de um milionário (Jeremy Irons) acusado de tentar matar a mulher (Glenn Close).
O marido jura inocência. Mas, que adianta jurar inocência quando se é Jeremy Irons, isto é, quando se traz a ambiguidade inscrita no olhar, nos gestos, nas palavras?
O filme reconstitui não propriamente o processo judicial, mas o processo de busca da verdade, de superação da dúvida. Quanto mais conhecemos o personagem, menos podemos nos fiar em nada do que acontece, quanto mais sua intimidade é detalhada, mais ele se torna estranho.
É claro que o resultado a que chega o filme passa por Irons, que ganhou o Oscar de melhor ator por seu trabalho. É verdade que ele havia feito melhor, um ano antes, em "Gêmeos - Mórbida Semelhança", de David Cronenberg.
Mas isso não torna menos fascinante o labirinto a que Schroeter nos introduz com eficácia, e no qual parece nos dizer que perder-se não deixa de ser uma forma de conhecer.
(IA)

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