São Paulo, quarta-feira, 22 de fevereiro de 1995 |
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Novo disco mantém padrão de qualidade
PEDRO ALEXANDRE SANCHES
Como Liz não é inglesa, ninguém levantou ainda a voz para denunciá-la como farsante ou decretar seu desmascaramento. Não é o caso mesmo. "Whip-Smart" é mais redondo que seu antecessor, o cultuado "Exile in Guyville". Não é pouca coisa: seu disco de estréia foi escolhido o melhor de 1993 pela "Spin" e pelo "Village Voice" e a cantora foi considerada vocalista-revelação do ano pela "Rolling Stone". Se o primeiro disco era a resposta feminina/feminista a "Exile on Main Street" (1972), dos Rolling Stones, a idéia de Liz agora era fazer o mesmo com "Goat's Head Soup" (1973). Não o fez por falta de dinheiro para cobrir despesas autorais. Foi melhor assim. Ainda que os Stones continuem pairando por "Whip-Smart", o abandono por ora da obsessão pela banda permite que se visualize melhor a posição ocupada por Liz no universo pop atual: em algum ponto de distância entre os Sex Pistols, inventores do punk em 1977, e Prince, defensor do funk dali até hoje. Na faixa-título, o refrão é acompanhada em coro pela voz de Malcolm McLaren, inventor dos Sex Pistols. Quanto a Prince, ele andou circulando com Liz, sob rumores de possíveis parcerias. A tensa "Supernova" é prima-irmã de "Loose", do último disco do cantor (que muitos juram decadente). Ambas são bem bacanas. Punks e funks não são referências únicas. Adotando certo tipo de feminismo como fonte de inspiração, Liz retoma e reconstrói a reduzida mas marcante tradição feminina no pop/rock. Os fantasmas de Patti Smith, Marianne Faithful e Nico fazem-se ouvir aqui e ali em "Whip-Smart". Patti Smith está presente especialmente nos vocais da melancólica "Chopsticks". É um dos melhores momentos do disco, perdendo apenas para a faixa-título e para "Cinco de Mayo". Mas a poesia simbolista de Patti não se encontra em estado puro em Liz. "Chopsticks" cita a colega de adolescência Julia Roberts, e Liz vive na mansão-cenário de "Esqueceram de Mim", com um marido, dois filhos e 17 gatos. Nada assim tão transgressivo. Suas letras em geral elegem um verso a ser repetido ad infinitum, em procedimento tipicamente contemporâneo. Mas, em termos de contemporaneidade, a islandesa Bjork faz melhor. As baladas do disco, em que os vocais se aproximam de Sinéad O'Connor, perdem em atualidade para antigas e pungentes canções de Patti Smith e Marianne Faithful, comprovando que Liz Phair tem longa estrada a percorrer. Disco: Whip-Smart Artista: Liz Phair Lançamento: Matador/Warner Preço: R$ 20, em média Texto Anterior: Rockeiras combatem machismo fora dos discos Próximo Texto: Coluna Joyce Pascowitch Índice |
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