São Paulo, quarta-feira, 22 de fevereiro de 1995
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Físico consegue achar vilão do ciberespaço

MARINA MORAES
ESPECIAL PARA A FOLHA

O vilão mais procurado do ciberespaço está atrás das grades. É Kevin Mitnick, que acumulou um currículo de arrepiar cabelos de executivos, programadores e autoridades americanas. Também era o ídolo dos hackers, os infomaníacos que se divertem pregando peças no computador alheio.
Kevin, de 31 anos de idade, foi preso pelo FBI em Raleigh, na Carolina do Norte, e indiciado por dois crimes que podem resultar em 20 anos de prisão e 500 mil dólares de multa. E o pior: longe do teclado de um computador. É acusado do uso ilegal de um aparelho de acesso a linha telefônica e de fraude informatizada.
Para o bem ou para o mal, a história desse rapaz é fascinante. Começou como o típico nerd de escola americana, aquele garoto para o qual as meninas não dão bola e que resolve provar seu valor de uma forma não tradicional.
Kevin se entregou à obsessão que acabaria colocando o nome dele na lista dos mais procurados: a invasão via modem de computadores alheios. Aos 17 anos foi preso pela primeira vez, depois de furtar manuais de uma companhia telefônica.
Em 82, aos 18 anos, Kevin entrou no computador central do Comando de Defesa Aérea dos EUA, em um episódio que inspirou o filme "Jogos de Guerra".
Não se sabe exatamente quando Kevin atravessou de vez a fronteira entre os trotes e o crime. Em 88, foi acusado pela Digital, a gigante da informática, de causar um prejuízo de US$ 5 milhões. Foi condenado na Justiça por embaralhar os arquivos da empresa, ver informações confidenciais e furtar programas via modem. Da sua pena fazia parte uma exigência para que passasse pelo menos seis meses sem tocar em um teclado de computador.
Kevin descumpriu a proibição e passou a ser caçado pelo FBI.
Quis o destino que Kevin acabasse "caindo" por obra de um outro fenômeno do ciberespaço, Tsutomu Shimomura, de 30 anos, um físico que é consultor para segurança de grandes companhias e do governo americano.
Escondido na Carolina do Norte, Kevin decidiu brincar via modem com os computadores de Tsutomo, manipulando arquivos e recolhendo informações confidenciais para torná-las públicas na Internet. Escolheu mal o adversário. Obcecado pelo invasor, o físico dedicou-se nos últimos meses a um trabalho de detetive digital.
Primeiro monitorou os movimentos de Kevin nas redes de computador. Depois, com a ajuda de técnicos de companhias telefônicas, localizou a região de onde partiam os ataques mais recentes do inimigo. Finalmente, munido de uma antena para rastrear comunicação celular, levou o FBI ao prédio de apartamento onde Kevin mantinha seu "aparelho".
Na primeira audiência depois de preso, Kevin encontrou Tsutomu pessoalmente. Olhou para o inimigo e disse apenas: "Respeito sua capacidade".

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