São Paulo, quinta-feira, 23 de fevereiro de 1995
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Os calendários; Ministro e trabalhador; Estratégia brasileira; Bom apetite; Desafio à homeopatia; Na ponta do lápis

Os calendários
"Venho solicitar que sejam prestadas à opinião pública, através da Folha, as seguintes informações indispensáveis ao completo esclarecimento dos fatos relacionados com a representação contra minha candidatura ao Senado, pelo PMDB da Paraíba: 1. ao contrário do que a imprensa noticiou amplamente, os calendários de Ano Novo, impressos em dezembro de 1993, não continham qualquer propaganda eleitoral implícita ou explícita, sendo, inclusive, a sua mensagem dirigida a todos os brasileiros, e não apenas aos paraibanos que seriam os meus eleitores; 2. a publicação foi feita legalmente, de acordo com as normas internas que há vários anos vigoram no Senado Federal, as quais sempre asseguraram aos senadores e deputados (através de convênio) quotas de serviços gráficos; 3. a lei eleitoral que regeu as eleições de 1994 vedava publicações por órgãos públicos em favor de candidatos ou partidos; 4. em fevereiro de 1994, quando o procurador eleitoral junto ao TRE da Paraíba entrou com a sua representação, eu não era candidato a qualquer cargo eletivo. Falava-se em meu nome para disputar o governo da Paraíba. Só no final de maio daquele ano fui escolhido candidato ao Senado; 5. o Tribunal Regional Eleitoral da Paraíba, que conheceu os fatos, deu-me ganho de causa; 6. por sua vez, o Supremo Tribunal Federal, por razões técnicas, limitou-se a não tomar conhecimento do recurso extraordinário que impetrei. Portanto, o mérito da questão não voltou a ser julgado pela instância superior e final, após a surpreendente decisão do TSE; 7. justamente por isso foi que alguns líderes, no Congresso, apoiaram a idéia da anistia que beneficiava mais de uma dezena de outros parlamentares também processados por publicações semelhantes, sem qualquer intuito de propaganda eleitoral."
Humberto Lucena, senador pelo PMDB-PB (Brasília, DF)

Ministro e trabalhador
"No dia 21/02, à pág. 1-11, com chamada de primeira página, a Folha destacou em manchete uma frase pronunciada pelo ministro do Trabalho, Paulo Paiva, que não corresponde ao pensamento e sentimento manifestados por ele em entrevista durante reunião com a Força Sindical, em São Paulo, dia 20 de fevereiro. O ministro afirmou sim 'não ser trabalhador' ao se recusar a falar em nome dos sindicalistas a respeito do salário mínimo, como o próprio jornal registra: 'A pergunta deveria ser respondida pelos líderes expressivos presentes ... seria demagógico falar em seu nome ... Hoje eu represento o governo federal, comprometido com o projeto que a população escolheu ao votar em Fernando Henrique Cardoso'. Ao retirar a declaração do seu contexto, os leitores podem ter sido induzidos a acreditar em outra coisa. Seria um despropósito, um contra-senso, até mesmo uma brutal esquizofrenia, alguém se dizer ocioso em plena função ministerial. Seria, por outro lado, ocioso dizer que o governo federal já admitiu, através do próprio presidente da República, exiguidade do mínimo. O projeto do governo é elevá-lo assim que as contas públicas o permitirem. Para isto, trabalhamos."
Geraldo Lúcio de Melo, coordenador de Comunicação Social do Ministério do Trabalho (Brasília, DF)

Estratégia brasileira
"Magnífico o artigo do Roberto Campos 'Era perigoso, porém mais fácil', do dia 19/02. Ao descrever a situação do mundo pós-Guerra Fria, o autor coloca quatro tendências dos Estados Unidos, vis-à-vis a política exterior: o wilsonianismo, o economismo, o humanitarismo e o minimalismo. Penso que as quatro não são alternativas, mas se integram na política que os Estados Unidos adotam com a América Latina e, portanto, com o Brasil e da forma mais distorcida possível. O wilsonianismo —e aqui concordo com o deputado— tenta impor uma democracia não adaptada à nossa cultura e à nossa tradição, tornando-se inútil. O economismo, atualmente prevalente, nos exporta receitas e economistas visitantes do FMI que, depois de levarem o México —e possivelmente a Argentina— à bancarrota e, pior que isso, à miséria, poderão nos levar também, se não formos suficientemente inteligentes e, acima de tudo, patriotas e corajosos. O humanitarismo confunde solução de problemas sociais com uma visão neo-malthusiana de controle da natalidade e o minimalismo significa fazer pela América Latina e, portanto, pelo Brasil, tudo aquilo que interessa aos Estados Unidos e absolutamente nada mais. O artigo de Campos é importantíssimo porque, deixando o 'rei nu', nos permite pelo menos o início de uma reação que, considerando as extensões continentais do nosso país, não deve ser de submissão, mas de construção do nosso próprio processo de desenvolvimento. Um país, uma instituição e uma pessoa se desenvolvem quando encontram dentro deles os caminhos próprios para atenderem as suas peculiaridades em função de seus objetivos, e o objetivo do nosso desenvolvimento não deve ser só o saneamento econômico, mas o de trazer à maioria da população uma condição digna de vida."
José Aristodemo Pinotti, deputado federal pelo PMDB-SP (São Paulo, SP)

Bom apetite
"A professora Manuela Carneiro da Cunha afirmou que comeria seu chapéu caso eu seja doutor em letras francesas e comparadas pela Université de la Sorbonne Nouvelle. Minha tese, 'Approches d'un Thème Littéraire: La Révolte Chez Albert Camus et Ernesto Sábato' foi defendida no dia 26 de março de 1981, na sala Bourjac, na Sorbonne. Meu sobrenome é Ferreira Moreira. Os informantes da professora em Paris bem poderiam ter consultado meu orientador, Daniel Pageaux, e os demais componentes da banca, Paul Verdevoye e Denise Brahimi. Menção: 'Très Bien'. O projeto de tese está registrado no Fichier Central des Thèses, sob nº 7910831E. O atestado de diploma tem nº 002311. A tese foi traduzida ao português com o título de 'Mensageiros das Fúrias' e publicada pela editora da UFSC, Florianópolis. Se a professora já saiu do neolítico em que pretende aprisionar os indígenas, poderá lê-la em CD-ROM na revista 'Neo Interativa' nº 4. Agradeceria à professora se me enviasse evidências de que o documento de Genebra foi forjado. Se foi, o autor merece um Nobel de futurologia, pois suas recomendações estão sendo cumpridas à risca onde quer que haja índios e minérios. Forjado foi, isto sim, o 'genocídio' de ianomâmis em agosto de 93. Quanto ao chapéu da antropóloga, espero que tenha gostado do sabor e que faça bom proveito. Espero receber foto do ritual."
Janer Cristaldo, doutor em letras francesas e comparadas (São Paulo, SP)

Desafio à homeopatia
"Com relação à carta de Isaias Raw, diretor do Instituto Butantan (21/02), internar pacientes em local que nem hospital é fere as normas da declaração de Helsinki, fazendo de pacientes cobaias humanas. A resposta integral a suas observações rotineiras, por ser muito grande, está à disposição de todos na revista 'Consultório Médico', de dezembro/94, págs. 18 e 19. Embora também formado pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, parece-me óbvio que não seja a única na Terra com credibilidade científica. Quanto a desafios, não nos parecem a maneira mais científica de progresso, mas tão-somente um tipo de música sertaneja..."
Luiz A. S. Freitas, vice-presidente da Associação Paulista de Homeopatia (São Paulo, SP)

Na ponta do lápis
"Considerando o prazo médio de 90 dias na espera do carro 'popular' e a exigência do pagamento antecipado para o consumidor que entra na fila, vejamos: 1. a taxa de remuneração perdida pelo consumidor no período entre o desembolso e o efetivo recebimento do carro é aproximadamente 8%. 2. a elevação da alíquota, outros 8%. Somando-se os itens 1 e 2, chegamos ao percentual de 16%, que é o ágio médio cobrado no mercado..."
Lauro Raposo de Almeida Figueiredo (São Paulo, SP)

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