São Paulo, sexta-feira, 24 de fevereiro de 1995
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Boas e más ações

JANIO DE FREITAS

Dois aspectos sobressaem, pela gravidade, entre os tantos perceptíveis nas variações do governo quanto à privatização, ou não, das companhias telefônicas. De uma parte, posições divergentes com intervalo tão curto, e procedentes do mesmo ministro Sérgio Motta, podem ser vistas como ausência de um projeto sério. Mas, de outra parte, a variação tem implicações financeiras já suspeitas de jogo lucrativo com ações das telefônicas.
No último dia 6, o ministro Sérgio Motta fazia no Rio um anúncio surpreendente, dado que as telefônicas (Telesp, Telerj e congêneres) figuravam entre as estatais a serem privatizadas: "A Embratel e as teles (telefônicas, para os não íntimos) são patrimônio do país e vão continuar como patrimônio". As bolsas de valores despencaram, em razão, segundo as explicações dos especialistas aos jornais, da inesperada permanência das teles como estatais.
Sérgio Motta voltou ao tema anteontem, mas para difundir exatamente o oposto. Ou seja, para admitir que as telefônicas são privatizáveis, exceto só a Embratel e a Telebrás porque consideradas "estratégicas". As bolsas de valores alçaram vôo ontem, em razão, segundo as explicações dos especialistas aos jornais, do repentino retorno das telefônicas ao rol das estatais privatizáveis.
Entre serem e deixarem de ser um "patrimônio do país" que "vai continuar como patrimônio", as telefônicas sofreram uma queda e uma alta no valor de suas ações, com intervalo de apenas duas semanas. Quem, sabendo que não prevaleceria a primeira declaração, comprou ações de telefônicas na baixa, ontem já contabilizaria um senhor lucro. Esta figura que aplica em ações, para si ou como testa-de-ferro, em função de informações privilegiadas, claro que sempre provenientes de setores do governo, no mercado financeiro tem a denominação de "insider".
A parlamentares dignos e à Procuradoria-Geral da República compete investigar se houve os investimentos em ações de telefônicas, entre o início da sua queda e o início do pregão de ontem, e a sua procedência. Há muita gente falando em atividade de "insiders".

Boa notícia
O senador José Eduardo Dutra e o deputado Marcelo Deda entraram com representação conjunta na Procuradoria-Geral da República, pedindo a abertura de inquérito para apurar a publicada ligação do ex-ministro das Comunicações, Djalma Morais, com Luiz Mário Pádua ou com a empresa LMP —os tais que, com capital de apenas R$ 3.000, receberam 41 concessões, entre as 349 outorgadas por Morais e Itamar Franco nos últimos cinco dias do governo passado.
O inquérito é de natureza criminal e, por isso, independe da anulação das concessões pelo Congresso, como propôs o deputado Tilden Santiago.

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