São Paulo, quarta-feira, de dezembro de
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Obra de metrô revela pista romana em Lisboa

JAIR RATTNER
ESPECIAL PARA A FOLHA, DE LISBOA

A escavação do túnel do metrô de Lisboa revelou que no local onde está a capital portuguesa ficava o maior porto e a principal cidade romana da costa atlântica.
A afirmação é do arqueólogo Clementino Amaro, do Instituto Português do Patrimônio Artístico e Arqueológico, baseada na descoberta de um hipódromo romano, há duas semanas.
Ao fazer o fosso para retirar o tatuzão do metrô, foi encontrada a spina, a ilha central do hipódromo, em torno da qual corriam quadrigas romanas —carros puxados por quatro cavalos.
Localizado seis metros abaixo do Rossio, a principal praça da capital portuguesa, o hipódromo era uma construção que teria entre 300 e 350 metros de comprimento e de 65 a 80 metros de largura.
Agora, as escavações arqueológicas serão interrompidas e os achados usados na decoração da estação do metrô do Rossio.
Não vale a pena demolir um quarteirão de prédios do século 18 para procurar os portais do hipódromo, afirma Clementino.
Clementino acredita que o hipódromo seja do final do século 1 d.C. O único elemento classificável encontrado, uma cerâmica, é desse período, conta.
Pelos elementos até hoje encontrados, Olisipo - o nome da cidade na época romana - deveria ter uma burguesia bastante rica.
Apesar de ter apenas 5.000 habitantes, contava com um teatro e um hipódromo, a única cidade da península com estes dois espaços de diversão.
Em 1981 foram encontradas fábricas de conservas de pescados que se estendiam por mais de 500 metros à beira rio.
Olisipo fornecia peixes secos e garum —um aperitivo feito de peixes, com vísceras e sangue, com sabor semelhante ao do caviar— a grande parte do império romano.
Já se sabe onde ficam as termas romanas e perto do hipódromo encontra-se uma grande necrópole. O único grande equipamento que falta encontrar de Olisipo é o fórum, uma grande praça, com o templo, a basílica e a zona de mercado, afirma Clementino.
Falta encontrar apenas um hipódromo romano em terras portuguesas. Segundo os textos romanos, existiam no território que hoje é Portugal três hipódromos.
O de Olisipo e o de Miróbriga —no centro de Portugal, a 200 km de Lisboa—, já foram achados.
Segundo Clementino, o terceiro deve ficar cerca de 4 a 5 quilômetros da cidade de Tavira, no sul do país.
No período romano, existiam duas grandes metrópoles na península ibérica: Braccara Augusta, onde hoje é Braga, e Emmerita Augusta, atualmente Mérida.
Apesar de não ter o mesmo tamanho, Olisipo teve uma grande importância, chegando a ser chamada por Júlio César de Felicitas Júlia.
Em torno de Olisipo, havia um série de outros núcleos populacionais dos romanos. Do outro lado do rio, onde hoje é Cacilhas, foi encontrada mais uma fábrica de conservas.
Numa baía também do outro lado do rio, no Seixal, eram fabricadas as ânforas, utilizadas para o transporte das conservas de peixe.
O rio, que hoje está poluído, era famoso em todo o império pela qualidade de seus peixes e ostras.

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