São Paulo, sábado, 25 de fevereiro de 1995
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Só tem masterpiece no nosso futebol

MATINAS SUZUKI JR.
EDITOR-EXECUTIVO

Meus amigos, meus inimigos, está aberta a temporada de obras de arte. Só dá masterpiece. Só da gênios da pintura. Só dá florilégio universal de grandes autores. Só dá antologia de golaços.
Você viu o gol do rei Roberto Carlos contra o Grêmio? Foi o mais longo dos gols. Foi um gol disparado lá do Antigo Testamento. Foi o gol que começou na primeira das mil e uma noites.
Foi o gol do assim caminha a humanidade. Foi o gol da volta ao mundo em 80 dias. Foi o gol do homem que veio de longe. Uau!
E o gol do Túlio, no jogo da seleção brasileira contra os herdeiros da Nova Ordem Mundial, os Eslavos? O que é que é aquilo, meu filho?
O Túlio parecia mais o velho e bom Sugar Ray Leonard e a sua sequência rapidíssima de golpes curtos. Corta pra lá, corta pra cá. O goleiro ficou grogue, coitado, nocauteado. Póim!
E o Viola? Depois daquele desconcertante drible no Índio e do gol contra o Guarani, ele ainda fez outra maravilha da natureza futebolística justamente contra a Ponte Preta, a rival do Guarani.
O Viola quer fazer o seu nome em cima de Campinas. O seu nome artístico. Quer colar a viola popular no lugar da ópera campineira. É a guerra das artes.
Campinas dá o Carlos Gomes e o Viola dá obras primas do futebol. No primeiro e no segundo ato. E olhe que o gol contra a macaca foi com o pé cego, o direito. Depois ele foi cantar o hino dos Gaviões.
E o passe de calcanhar do Edmundo para o Rivaldo fazer o seu primeiro gol contra o Grêmio? O que é que é aquilo? Olho na nuca? O Edmundo enxerga de costas? Vê para trás?
Ô Edmundo, o seu futebol, desse jeito, enche de alegria este país. Assim, vai. Com jeito vai. E a casa não cai!
(E é a tese que eu venho defendendo: o Palmeiras não precisa, necessariamente, de um atacante com as mesmas características do Evair, para jogar lá dentro da área, enfiado entre os zagueiros. Não.
Quem tem a dupla Edmundo e Rivaldo, está muito bem servido. Estava faltando acertar o meio-de-campo, o setor que municia os atacantes. Uma vez acertado o meio-de-campo, tudo muda.
Aliás, o próprio Wanderley Luxemburgo vinha dizendo, pouco antes de sair do Palmeiras, que o Rivaldo cresceria ainda mais se fosse colocado lá na frente).
E, agora, vem o golaço do Santos, marcado pelo veloz Macedo, mas com o design made by don Giovanni. Se o negócio do Viola é cutucar o Carlos Gomes, o don Giovanni está mais para Mozart.
Que drible dentro da área! Ali, onde não parecia haver espaço para tentar a jogada individual. Ali onde parecia não haver tempo para chegar na bola após o drible. E ele fez tudo isto.
E mais: com uma elegância, com um refinamento, com uma técnica só encontráveis nos grandes artistas da bola (e, o exímio olheiro Alberto Helena Jr. já havia cantado esta bola toda do garoto).
O futebol no Brasil está um Louvre, um Prado, um Moma, um Masp. Só tem obra de arte. Estamos vivendo um impressionismo, um cubismo, um expressionismo, uma explosão de golaços.
Uau! Uau! Uau! Boa folia pra todos.

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