São Paulo, sábado, 25 de fevereiro de 1995
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Fotos de Carnaval viram acervo público

LUIZ ANTÔNIO RYFF
ENVIADO ESPECIAL AO RIO

A Biblioteca Nacional está recebendo a doação de um importante acervo fotográfico sobre o Carnaval carioca. São cerca de 25 mil fotos, tiradas desde 67 até a década de 80. A coleção será entregue na semana seguinte ao Carnaval.
São registros de carnaval de rua —com seus blocos e personagens folclóricos—, da montagem das escolas de samba dentro dos barracões e de desfiles.
As imagens, quase todas em preto-e-branco, fazem parte de um acervo de 88 mil fotos, entre negativos e positivos, da coleção de Alair Gomes (1921-1992), fotógrafo, engenheiro, filósofo e crítico de arte.
"Ele era um grande fotógrafo, um excelente crítico de arte, um humanista, um ser da Renascença deslocado no seu tempo. Seu trabalho é altamente sensível", atesta o colecionador Gilberto Chateaubriand, que comprou várias fotos de Gomes.
Há trabalhos dele no Museu de Arte Moderna de São Paulo e do Rio e em importantes coleções particulares, como a de Joaquim Paiva.
Gomes foi membro da Associação Brasileira de Críticos de Arte e da Association des Critiques D'Art, na França. Expôs suas fotos em Nova York, Paris e Bolonha (Itália).
A coleção foi doada por Aíla Oliveira Gomes, viúva do fotógrafo, mas a guarda do acervo estava confiada ao artista plástico Mauricio Bentes, ex-aluno de Gomes.
"Ele captava a espontaneidade, como um fotojornalista. Suas fotos não têm estúdio, montagem, maquiagem, adereço de cena", diz Bentes.
Mas sua produção não se limita ao Carnaval. A série "Glimpses In America", por exemplo, traz 900 fotos no espírito da "pop art".
Além disso, Gomes fez ensaios de nus masculinos, fotografou paisagens brasileiras, formas vegetais, personagens do Rio de Janeiro (atores, poetas, intelectuais, artistas plásticos), peças de teatro, obras de artistas brasileiros e de museus americanos e europeus.
Em alguns trabalhos, Gomes construía sequências. "Isso dava uma idéia de musicalidade", explica Bentes.
Essa produção vai se somar ao acervo da Biblioteca Nacional, que possui uma das maiores e mais valiosas coleções de fotografias brasileiras e estrangeiras do século 19 existentes numa instituição pública no país.
Seu principal item é a coleção dona Thereza Christina Maria —doada pelo imperador dom Pedro 2º após o exílio provocado pela proclamação da República—, que registra o início da fotografia no país.
Além de retratos tirados pelo imperador, há fotos feitas por alguns pioneiros no país, como o francês Marc Ferrez.
O público já tem acesso à coleção Thereza Christina em computadores na biblioteca.

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