São Paulo, sábado, 25 de fevereiro de 1995
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Huppert atua no 'último filme marxista'

JAIR RATTNER
DE LISBOA

Representar uma funcionária dos correios que leva uma analfabeta à revolta é o próximo papel da francesa Isabelle Huppert, no filme "A Cerimônia", que está sendo rodado por Claude Chabrol ("Ciúme"). "É um filme sobre luta de classes, talvez seja o último filme marxista do cinema", conta a atriz.
A produção, que será lançada em setembro, é baseada no romance "A Analfabeta", da inglesa Ruth Rendell, e conta a história da revolta de uma personagem analfabeta, interpretada por Sandrine Bonnaire, contra uma burguesa, Jacqueline Bisset.
"Essa revolta assume uma forma primária e primitiva, com o lado bom e o lado mau muito definidos", explica. No papel, Isabelle vai jogar a analfabeta contra a burguesa.
Aos 41 anos, este será o quarto filme que Isabelle roda com Claude Chabrol. "Atualmente temos uma relação particular muito privilegiada. Ele escreve os papéis de uma forma muito precisa para mim e isso é muito bom."
Situado na época contemporânea, ao contrário dos outros filmes que fez com Chabrol, Isabelle vê semelhanças entre as personagens: "Nos filmes de Chabrol, todas as minhas personagens são um pouco revoltadas e em seu trajeto mostram o mundo que as envolve. O filme acaba sendo uma metáfora da condição feminina e da própria condição humana", afirma.
Isabelle interrompeu as filmagens para três apresentações em Lisboa do monólogo "Orlando", uma montagem do americano Bob Wilson para o romance de Virginia Woolf.
"Orlando puxa para o que há de masculino e feminino em cada um de nós", afirma.
Ela considera uma aventura trabalhar com Bob Wilson, um dos principais diretores formalistas do mundo. "Ele usa o formalismo não como um fim, mas como um meio. Cria limites muito claros e a partir daí você pode ter uma liberdade muito grande", afirmou.
Uma das principais particularidades que encontra no trabalho de Bob Wilson é a relação entre o texto e a encenação: "Ele não fala francês e chega à compreensão do sentido do texto de uma forma diferente. O trabalho é sobre a arquitetura do espaço e o trabalho do texto vem da arquitetura sonora", diz Isabelle, que pela primeira vez no teatro trabalha em palco com microfones.
Ela já fez 110 apresentações da peça. "Para uma atriz, fazer um papel de homem é a realização mais completa, é fazer a passagem para o outro lado do espelho é ser o outro completo, um homem."

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