São Paulo, sábado, 25 de fevereiro de 1995
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Oldham é a estrela da nova moda americana

GUTO BARRA ; EVA JOORY
FREE-LANCE PARA A FOLHA, EM NY

EVA JOORY
Aos 27 anos, o estilista Todd Oldham é um astro de televisão e uma personalidade do mundo da moda de Nova York. Ele apresenta uma série especial do "House of Style", na MTV, ao lado da supermodel Cindy Crawford (hostess do programa), para onde criou uma coleção exclusiva.
As roupas foram vendidas por telefone —sistema até então inédito no prêt-à-porter— e o sucesso dessa iniciativa impulsionou a abertura da primeira loja de Oldham, no bairro do SoHo.
O estilista ainda vende nas mais importantes lojas de departamento de NY —Bergdorf Goodman, Barneys e Bloomingdale's—, mantém sua fábrica em Dallas, comanda 90 funcionários e faz consultoria da marca alemã Escada.
Oldham (pronuncia-se "ôldam") faz uma moda que chama de "anticonvencional" (leia texto nesta página) e se prepara agora para lançar uma coleção masculina no final do ano. Em seu show-room, concedeu entrevista exclusiva à Folha .

Folha - O que poderia definir a geração de estilistas nova-iorquinos da qual você faz parte, ao lado de Marc Jacobs e Anna Sui?
Oldham - Liberdade. Acho que não seguimos muitas tendências, cada um de nós faz o que tem vontade e pronto.
Folha - Além do preço, quais as diferenças da coleção que você cria para a loja e para a TV?
Oldham - Quando se faz moda para a TV você tem que ser muito criativo, porque você não tem a qualidade principal do ato da compra, que é o toque. Assim, você tem que desenhar para os olhos, é preciso trabalhar com materiais que as pessoas entendem, como veludo e algodão.
Fora essas pequenas mudanças, as coleções são bem parecidas, decidimos não tirar nenhuma qualidade por causa do preço.
Folha - O que mudou na criação de suas roupas depois que você abriu sua própria loja?
Todd Oldham - Foi ótimo, me senti aliviado por ver as roupas dispostas em um lugar onde as pessoas que estão na rua possam entrar e ver. É mais gratificante ver suas roupas em sua própria loja do que nas lojas de departamento, onde eles é que escolhem a maneira de mostrar a roupa.
Folha - Qual a diferença da mulher que compra suas roupas na TV e na loja?
Oldham - Sempre digo que eu não conheço as compradoras da TV, acho que são pessoas que vivem em áreas afastadas de Nova York, em cidades pequenas. Provavelmente são pessoas mais novas, que trabalham e que são atraídas pelo preço. Na loja temos a compradora nova-iorquina típica.
Folha - Como é o seu trabalho para a marca Escada?
Oldham - Bem, eu não desenho roupas para eles, sou um consultor de moda. É muito interessante porque vou para Munique 12 vezes por ano, mostro minhas idéias e eles as desenvolvem com uma ótima equipe de designers. Até nos demos muito bem.
Folha - Acha mais difícil criar para uma grande marca?
Oldham - Não, não acho nem um pouco difícil. Tenho muitas idéias e não acho que todas sejam apropriadas para o que eu faço aqui. Algumas coisas que imagino são mais conservadoras, outras podem funcionar melhor em um contexto europeu.
Folha - Como vê a moda européia em comparação com a moda americana?
Oldham - A moda de Nova York me parece muito limpa. Temos uma sensibilidade diferente, estamos expostos a diferentes fatores aqui. Mas acho que as fronteiras estão desaparecendo, temos que começar a pensar de maneira global.
Vejo que os europeus fazem coisas ótimas e se inspiram em nós; aqui fazemos a mesma coisa. Nos EUA a moda está crescendo e está sendo vista como negócio, a maioria pensa como empresários; na Europa ela também cresce, mas é vista como forma de arte.
Folha - Acha que a moda está mudando muito rápido?
Oldham - Acho que temos essa impressão por causa da mídia, não acredito que os estilistas mudem com toda essa rapidez. Os que fazem isso, provavelmente estão querendo agradar a mídia. Ultimamente, acho que o consumidor não liga muito para o que eu digo ou para o que as revistas dizem. Acho que eles sabem exatamento o que querem.
Folha - Acha que esse hype todo é ruim para a moda?
Oldham - Acho que é bom porque permite com que os estilistas façam coisas diferentes e mais criativas, porque estão pensando em um número maior de pessoas. O lado ruim é que há muita informação errada sendo publicada, acho que a mídia não tem muita responsabilidade, não tem a preocupação de falar a verdade.
Acho bom que exista a opinião de editores de moda, mas se essa opinião não envolve nenhuma pesquisa, então ela não serve a ninguém.
Folha - Qual a sua expectativa para o início da temporada, no próximo dia 2 de abril?
Oldham - Não estou ligando nem um pouco para o que os outros estilistas estão fazendo. Eu apenas gosto de moda, não amo. Há muitas outras coisas que me interessam mais, como filmes, animais, viagens...

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