São Paulo, sábado, 25 de fevereiro de 1995
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Poço sem fundos

O mergulho praticamente ininterrupto das Bolsas brasileiras nas últimas semanas parece ter encontrado um momento de correção no final desta semana.
Nas Bolsas, mais até que em outros mercados, a ciclotimia costuma ser a regra. Tudo o que sobe demais acaba caindo, e vice-versa. Em 1994 a Bolsa brasileira esteve entre as que mais se valorizaram no mundo. A eleição de um presidente com propostas liberais e reformistas era vista como um motivo a mais para apostar na alta de longo prazo, desafiando essa variante financeira da lei da gravidade.
É verdade que a crise mexicana praticamente enterrou o sonho de alta sustentada nos mercados latinos. Mas a rigor a Bolsa brasileira já exibia desde o final do primeiro turno da eleição presidencial sinais de exaustão e desapontamento.
O motivo fundamental, anterior à crise mexicana, é a frustração dos mercados com a transição entre o governo Itamar e a gestão FHC. Esperavam-se decisões espetaculares, especialmente no campo da privatização. Desse ponto de vista, não há motivos para esperar grandes altas nos próximos meses. O presidente já repetiu à exaustão que repele medidas espetaculares. Em lugar de uma privatização selvagem, FHC quer um processo gradual e seletivo de flexibilização de monopólios.
Já do ponto de vista macroeconômico também há poucos sinais alentadores. É verdade que a estabilização tem sido um sucesso e o governo mostra-se disposto a defender o real a todo custo. Mas essa defesa tem como consequência inevitável o ajuste fiscal, a contenção do crédito e a prática de juros reais positivos e ainda elevados nos próximos meses. Uma perspectiva pouco animadora em termos de rentabilidade e lucratividade das empresas listadas nas Bolsas.
Portanto, se é verdade que o cenário internacional possivelmente continuará adverso, também no ambiente doméstico não há fatores suficientes para amparar a crença numa alta sustentada. As Bolsas talvez ainda pareçam, nos próximos meses, um poço sem fundos.

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