São Paulo, domingo, 26 de fevereiro de 1995
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Experiência não livra senadores de vexames

RAQUEL ULHÔA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Os calouros no Senado, com raras exceções, não são tão calouros assim. Vários são ex-governadores, ex-ministros, ex-deputados estaduais ou federais ou já ocuparam cargos públicos. Mas a experiência não os livra de vexames.
O ex-diretor da Polícia Federal, Romeu Tuma (PL-SP), deu o maior fora na primeira sessão do Congresso. Quando a Mesa pediu que os parlamentares digitassem seus códigos para marcar presença, foi formada uma enorme fila atrás de Tuma, que era o mais próximo do posto avulso de votação.
Ansioso, ele fez várias tentativas e o código não era aceito. "Fiquei vermelho. Com esse passado de policial, era vergonhoso errar um número", disse.
O embaraço do novato chamou a atenção de um funcionário, que foi ao seu auxílio explicar que os deputados digitam primeiro. Constrangido, Tuma saiu da fila e esperou sua vez.
A senadora Marina Silva (PT-AC), ex-vereadora de Rio Branco e ex-deputada estadual do Acre, foi barrada várias vezes ao entrar no plenário, por não ser reconhecida por seguranças da Casa.
"O que é que você quer, moça?", perguntou um segurança, logo no dia da posse.
"Vou entrar para a sessão", respondeu Marina.
"Não pode. Só senadores", insistiu o segurança.
"Mas eu sou senadora", disse a novata, sem convencer.
"Qual é o seu nome?", perguntou o segurança.
"Marina Silva", respondeu, arrancando mil desculpas.
Depois disto, ela foi barrada duas outras vezes. É que a senadora não gosta de usar o broche de parlamentar, porque, segundo ela, o alfinete espeta sua pele.
O empresário Pedro Piva (PSDB-SP), suplente do ministro José Serra, brincou com assessores que está "pagando para trabalhar". Principal executivo do Grupo Klabin, indústria de papel e celulose, Piva está pagando cerca de R$ 1.500 para morar em um flat.
É que ele cedeu o apartamento do Senado para Serra morar. O ministro teve que deixar o apartamento da Câmara ao fim do mandato de deputado e ficou na rua. Piva, um dos financiadores da campanha de Serra, agora lhe garante a moradia.
Mas nenhum calouro do Senado teve tantos problemas como Ernandes Amorim (PDT-RO). Além de denúncias de envolvimento com o narcotráfico, surgidas ao ser eleito quarto-secretário da Mesa, ele tem problemas familiares.
Amorim não recebeu do Senado o apartamento funcional que deve ocupar e está morando em um quarto de hotel com o filho Ernan, de 14 anos. O filho vai e volta da escola sozinho e o pai está preocupado com as "más companhias" que podem cercá-lo, enquanto está só no hotel.
Amorim também está sem motorista, embora tenha carro oficial à sua disposição, e tem usado um Gol alugado por um assessor.

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