São Paulo, domingo, 26 de fevereiro de 1995
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Cartório não registra mortos

JOÃO BATISTA NATALI
DO ENVIADO ESPECIAL

Tomás Lima é escrivão há seis anos no único cartório de registro civil de Nossa Senhora dos Remédios. "Nunca lavrei atestado de óbito de criança", diz ele.
Uma leitura sumária dos livros demonstra que, das 26 mortes registradas de fevereiro de 1994 até agora, o defunto mais jovem se foi aos 29 anos.
"O povo só procura o cartório quando a viúva precisa de documento para receber a pensão do marido", afirma ele.
Como os cemitérios tampouco possuem um livro com a relação de nomes dos sepultados, o município desconhece suas taxas de mortalidade adulta e infantil.
Pelos livros estatísticos das escolas, é impossível saber quantas das crianças qualificadas de "evadidas" morreram ou continuam vivas. Mesmo assim, a subnutrição e a consequente dificuldade de aprendizado aparecem, de forma indireta, em todos os mapas de avaliação escolar.
Numa das escolas, em duas classes com 39 alunos, só 13 passaram de ano em 1994. Os demais ou repetiram ou deixaram de frequentar as aulas. Numa segunda, dos 73 das classes de primeira série, só 22 passaram de ano.
(JBN)

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