São Paulo, domingo, 26 de fevereiro de 1995
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Real faz cair mortalidade, diz a Pastoral

GILBERTO DIMENSTEIN
DIRETOR DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Depois de exibir uma acentuada elevação nos seis primeiros meses do ano passado, a mortalidade infantil caiu.
Um dos motivos pode ser o aumento do consumo produzido pelo Plano Real. A afirmação é da Pastoral da Criança, ligada à Igreja Católica, principal radar da mortalidade infantil no país.
A Pastoral faz um acompanhamento em 19.077 comunidades, espalhadas em 2.109 municípios. São acompanhadas as condições de vida de 1,5 milhão de famílias e 2,1 milhões de crianças menores de seis anos.
Os números foram concluídos na sexta-feira passada, indicando que, nos últimos trimestre de 1994, atingiu-se o patamar mais baixo desde que se iniciou o acompanhamento em 1989.
Comparando-se o último trimestre de 1994 com o mesmo período no ano anterior, houve uma redução, no Nordeste, de 28%.
"O aumento do consumo certamente influiu nessa melhora", disse Nelson Arns, coordenador nacional adjunto da Pastoral.
Com o aumento do consumo, provocado pela estabilidade da moeda combinada ao crescimento econômico, eleva-se a compra de alimentos para as mães e os bebês, reduzindo a mortalidade.

Fator seca
Nelson Arns aponta a redução da seca como outro fator para redução da mortalidade. Combinada com a crise econômica, a seca produziu a explosão nas estatísticas verificada nos seis primeiros meses de 1994 — a tendência foi confirmada pelo Ministério da Saúde.
O aumento no Nordeste, comparando-se com os primeiros seis meses do ano anterior, chegou a 30%. Interrompeu-se a série, constatada desde 1989, de queda contínua nos índices de mortalidade. Um dos exemplos mais notórios foi Teotônio Vilela, interior de Alagoas.
Somava-se à seca e à crise econômica, a falta de remédios em postos de saúde, reconhecida pelo Ministério da Saúde. Mas, alarmados com as revelações, o governo lançou um programa emergencial em áreas do Nordeste.
Segundo Arns, essa operação também ajudou a influir nos índices. "É impossível, porém, saber qual o peso exato dessas ações na redução da mortalidade", afirmou. "O certo é que houve uma conjugação de fatos, que passam pela redução da seca e os efeitos positivos do real", concluiu.
No ano de 1994, a mortalidade infantil nas comunidades acompanhadas pela Pastoral da Criança ficou em 38 por 1.000 (38 mortes a cada 1.000 nascidos)— a média brasileira é estimada em 50 Por 1.000.
No Nordeste, a média das comunidades da Pastoral foi de 38 por 1.000. A estimativa nacional é de 63,3 por 1.000.
A diferença existe porque, nas comunidades acompanhadas pela Pastoral, as mães recebem acompanhamento desde o processo de gestação, aprendem como combater a desnutrição, são estimulados o aleitamento e a vacinação, além das medidas de higiene.

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