São Paulo, domingo, 26 de fevereiro de 1995
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NA PONTA DO LÁPIS

MARCELO LEITE

Os comentários críticos desta coluna se concentram sobre os textos da Folha porque este é o jornal que cabe ao ombudsman criticar, em primeira mão, e que de resto lhe oferece matéria-prima bastante. Engana-se porém quem imaginar que só na sua Redação os números e estatísticas ocasionam seguidos tropeços.
Até mesmo olímpicos juízes podem escorregar, como este ombudsman e os editores da revista "Imprensa". Estes assinam o devastador editorial "Absurda prepotência", no qual se lê:
"A petulância da imprensa mostra-se, por exemplo, nas respostas do questionário elaborado pelo Cebrap quanto ao manejo da opinião pública que os jornalistas acreditam ter em mãos. Quatro entre dez leitores, segundo eles, são 'enganáveis'. Apesar dessa interpretação acerca da inteligência do principal alvo de seu trabalho, a maioria dos jornalistas brasileiros acredita que a imprensa é isenta."
A julgar pelo manejo que fizeram das cifras da pesquisa, os editores da "Imprensa" também não têm em boa conta a inteligência de seus próprios leitores.
Na realidade, os jornalistas entrevistados pelo pesquisador Adalberto Cardoso não responderam uma pergunta quantitativa, do tipo "quantos leitores de jornais você considera enganáveis". O questionário pedia que escolhessem entre quatro graus de concordância (de "discordo muito" a "concordo muito") com a frase "leitores facilmente enganáveis".
A soma de respostas "concordo um pouco" (31,3%) e "concordo muito" (10,3%) foi 41,6%. É assim que a informação aparece, corretamente, na abertura da reportagem.
Ato falho ou não, os editores concluíram que o problema estava com "quatro entre dez leitores", e não com os jornalistas que tão acidamente criticavam.

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