São Paulo, domingo, 26 de fevereiro de 1995
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Indústrias mantêm investimentos em populares

FÁTIMA FERNANDES; MÁRCIA DE CHIARA
DA REPORTAGEM LOCAL

A indústria está decidida a manter investimentos em produtos médios e populares, mesmo depois de dois pacotes para frear o consumo.
Empresários ouvidos pela consultoria Gouvêa de Souza & MD revelam que estão firmes na idéia de concentrar suas linhas em produtos para a classe média e baixa.
"A demanda reprimida na população de baixa renda é muito grande. E esse é o alvo dos investimentos da indústria para este ano", afirma Marcos Gouvêa de Souza, consultor da GS & MD.
Cláudio Felisoni, especialista em varejo, concorda. Para ele, as medidas para brecar o consumo são apenas conjunturais.
"O sonho da população de baixa renda de adquirir um bem durável pode estar só temporariamente adiado", diz.
Para Felisoni, a tendência de as empresas investirem em produtos mais simplificados é mundial.
"É o efeito da produção em maior escala para baratear o custo de fabricação."
Na sua análise, produto popular e barato não é sinônimo de "carregação". Mas, sim, de artigos mais simplificados e que podem até ter acessórios, antes apenas restritos às linhas mais sofisticadas.
Gouvêa de Souza diz que os investimentos das empresas na linha de populares estarão concentrados principalmente em alimentos, higiene e limpeza, vestuário e eletrodomésticos.
Levantamento da Indicator, especializada em pesquisa de mercado, mostra que, em janeiro, a indústria de alimentos já liderou o ranking de lançamentos, com 91 novos produtos.
Em dezembro do ano passado, as empresas de alimentos lançaram 68 produtos. As linhas renovadas foram especialmente as de iogurtes e de conservas de carnes e aves.
A linha de produtos de higiene pessoal e beleza ficou na vice-liderança com 30 lançamentos em janeiro. Em dezembro de 1994, foram 25.
A Marcyn, fabricante de lingerie, diz que vai manter os investimentos na linha popular. Desde janeiro ela comercializa a coleção Dedicate, 40% mais barata do que a sua linha principal.
Só em fevereiro, ela vendeu 300 mil peças, superando a expectativa de comercializar 200 mil unidades. Em março, a empresa pretende repetir a venda de 300 mil peças, informa Hélio Oliveira Jr., gerente.
Classe média
O sonho da classe média de adquirir um carro importado à vista ou através de operações de leasing (aluguel com opção de compra no final do contrato) está adiado por causa das recentes medidas adotadas pelo governo, na análise do consultor Felisoni.
Para Emílio Julianelli, presidente da Abeiva (Associação Brasileira de Empresas Importadoras de Veículos Automotores), que reúne 30 marcas de importados, esse sonho pode estar adiado especialmente para quem quer adquirir um carro importado que custa mais de US$ 25 mil.
Ele conta que em 94 foram importados 77,3 mil veículos —30% deles vendidos através de leasing. A expectativa para 1995 antes do aumento da alíquota de importação era de 120 mil carros.

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