São Paulo, domingo, 26 de fevereiro de 1995
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Governo pode reduzir o repasse voluntário a Estados

LILIANA LAVORATTI; VIVALDO DE SOUSA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Para evitar mudanças na política cambial, principal base do Plano Real, o governo vem tomando várias medidas no sentido de dar mais importância à questão fiscal.
Além de um novo corte orçamentário de R$ 8 bilhões, poderá ser reduzido o repasse voluntário para Estados e municípios.
As medidas na área fiscal têm o objetivo de equilibrar as contas públicas e zerar o déficit de R$ 9,5 bilhões previsto no Orçamento Geral da União. O governo quer evitar alterações na taxa cambial nos próximos meses porque isso poderia pressionar a inflação, em um momento que ela está em alta.
A desvalorização do real provocaria o aumento dos preços no mercado interno, principalmente das importações. "Mexer no câmbio será a última coisa a fazer", afirmou o ex-presidente do BC (Banco Central), Gustavo Loyola, atual sócio da consultoria MCM.
Aos poucos, o governo quer reduzir a responsabilidade do BC e o peso da política cambial na administração do Plano Real. Como os incentivos fiscais e os juros altos compensam eventuais perdas dos exportadores com a valorização do real, a prioridade é conseguir o equilíbrio das contas públicas.
O secretário-adjunto de Política Econômica, José Cechin, disse que a política cambial não deve ser alterada agora porque já foram adotadas medidas para incentivar as exportações.
É o caso do prazo de fechamento das operações de ACC (Adiantamento de Contrato de Câmbio), que foi ampliado para 180 dias. Isto já provocou aumento nas exportações de janeiro.
A última medida foi a proibição do leasing (arrendamento mercantil) de carros para empresas e pessoas físicas. Isto diminuirá as importações de automóveis, pois 25% do total estavam sendo destinados ao leasing.
A Folha apurou que uma das preocupações da área econômica é com eventuais mudanças na política cambial na Argentina após as eleições marcadas para maio.
Se o candidato vencedor aproveitar a força política do início de mandato para acabar com a paridade do peso frente ao dólar, o Brasil poderá ser forçado a também mudar sua política cambial.
Brasil e Argentina vivem situação semelhante quanto à necessidade de administrar repercussões de sua política cambial na fuga de capitais estrangeiros. A saída líquida (entradas menos remessas ao exterior) de capitais estrangeiros no Brasil, que era de US$ 230 milhões negativos em novembro, cresceu depois da crise do México para US$ 1,434 bilhão em janeiro.

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