São Paulo, domingo, 26 de fevereiro de 1995
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Perfil do homem que ganhou US$ 1 bi em 93

MARCELO CALLIARI
DA EQUIPE DE EDITORIALISTAS

O que fazer com um bilhão de dólares é uma dúvida que a esmagadora maioria das pessoas do mundo jamais terá de resolver. É uma quantia que escapa até à capacidade de compreensão. Pois foi esse valor astronômico, com um adicional de mais US$ 100 milhões, o "salário" recebido por George Soros só em 1993, que lhe valeu o invejável título de o homem mais bem pago da história da humanidade em um ano.
Mas quem é George Soros? Não é um nome comum no noticiário brasileiro, embora os iniciados nos mercados financeiros internacionais decerto o conheçam. Como mostrou um perfil feito pela publicação "World Link", do Fórum Econômico Mundial, Soros é um mito dessa confraria restrita que manipula bilhões de dólares à velocidade da luz, sem respeito por governos ou moedas, na busca do lucro sempre maior e mais rápido.
Numa transição impressionante, o menino judeu que fugia dos nazistas na Budapeste ocupada e chegou a Londres em 1948 sem nada tornou-se uma das estrelas do cabalístico mundo dos "hedges", derivativos e swaps. Simplificadamente, tais instrumentos em geral incluem uma aposta, que pode ser sobre o comportamento futuro de juros, câmbio, títulos, índices etc.
E Soros mostrou-se um excelente apostador. Em setembro de 1992, apostou que a libra britânica cairia. Apostou US$ 10 bilhões.
O banco central britânico tentou proteger sua moeda, mas acabou jogando a toalha. Soros ganhou US$ 1 bilhão e o sonoro epíteto de "o homem que quebrou o Banco da Inglaterra". De quebra, acendeu o debate sobre a perda de soberania das nações frente às hostes do capital internacional.
Desde 1969, o seu Fundo Quantum de investimentos apresentou o espetacular rendimento de 35% a 38%, em média, por ano. Exemplifica a "World Link": alguém que tivesse deixado módicos US$ 10.000 nas mãos de Soros em 1969 teria hoje seu capital catapultado para US$ 21.000.000.
Mas o mago das finanças também comete erros. Em 1994, o Fundo Quantum apostou US$ 8 bilhões na queda do iene japonês. Perdeu US$ 600 milhões.
Sua mística saiu algo arranhada, mas isso não afetou outra esfera da vida de Soros. Um dos maiores filantropos do mundo, já destinou US$ 1 bilhão a programas sociais.
Mas mesmo esse lado beneficente, embasado na sua idéia de criar uma sociedade mais livre e cooperativa, não ofusca o especulador. Para os que acusam sua filantropia de ocultar segundas intenções, Soros responde sem rodeios: "Acho que suas suspeitas são justificadas porque não se deve confiar em pessoas como eu."

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