São Paulo, domingo, 26 de fevereiro de 1995
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Profissionais se "fantasiam" para trabalhar

LUÍS PEREZ
DA REPORTAGEM LOCAL

No fim-de-semana, eles "rasgam a fantasia" que usam para trabalhar. Camaleões, estão em todos os escalões da empresa —são executivos, gerentes, secretárias, office boys e até estagiários.
Fora do trabalho, usam brinco, cabelo comprido —às vezes até pintado de cores exóticas— e tatuagem, entre outras "alegorias".
O coordenador de eventos Marco Aurélio Moura, 27, sai de casa de bermuda e tênis. Chega de bicicleta ao trabalho —um hotel cinco estrelas de São Paulo. Entra pela porta lateral e se "fantasia" de executivo —terno e gravata.
Está deixando o cabelo crescer. "As pessoas já estão comentando. Disfarço com gel", conta. "Daqui a um mês já dá pra fazer um rabo-de-cavalo. Queria usar brinco, mas não dá."
Brinco em homens também é assunto proibido na Andersen Consulting —a ponto de eliminar candidatos na seleção.
"Se alguém vier usando brinco, não vou contratar", diz Marcus Soares, 39, diretor de Recursos Humanos. "Na nossa empresa circulam clientes. Então, não é adequado usar brinco aqui."
A própria consultoria empresarial adota uma idéia inovadora, a "Casual Friday" (significa sexta-feira casual), dia em que o funcionário pode ir trabalhar à vontade. Calça jeans e camiseta estão liberados. Brinco, nem pensar.
Outro terror nos escritórios é a tatuagem. Muito bem camuflada, por sinal, por James Souza, 32, assistente de marketing da empresa aérea TAM. Ele tem no braço esquerdo uma tatuagem quadrada de 10 cm, que só apareceria se vestisse camisa de mangas curtas.
Sua sorte é que, normalmente, está de terno. "Se tivesse que lidar com o público, e ela aparecesse, causaria constrangimento." Souza fez a tatuagem aos 17 anos.
Se hoje precisasse tirá-la, iria gastar entre R$ 500 e R$ 2.000, dependendo da profundidade, afirma o cirurgião plástico Paulo Keiki Matsudo, 43, que atende muito profissionais com esse problema.
Em algumas empresas, o assunto "alegoria" é tabu: a IBM, por exemplo, enviou via assessoria um recado dizendo que brinco e cabelo comprido não são permitidos e que ninguém se pronunciaria.
Apesar disso, Emerson Couto Barion, 23, estagiário da empresa, tem cabelo comprido, mas nunca foi incomodado. "Ando com ele preso por opção." Em casa, é adepto do estilo heavy metal.
A advogada Sônia Regina da Silva Gutierrez, 39, protagonizou uma cena constrangedora 12 anos atrás. Avisada em cima da hora que teria uma audiência, ela foi pega de calças compridas.
"Entrei na sala do juiz, pedi desculpas por não estar de saia, mas não adiantou. Tive que voltar para casa. Ele se preocupou com a vestimenta em vez de agilizar o processo. Faltou bom senso."

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