São Paulo, domingo, 26 de fevereiro de 1995
Texto Anterior | Índice

Cliente ditador vai mexer com as empresas

DENISE CHRISPIM MARIN
DA REPORTAGEM LOCAL

A preocupação de voltar a produção e a gestão das empresas cada vez mais para a satisfação dos clientes é a tônica do discurso de Fred Wiersema, vice-presidente da CSC Index, consultoria considerada pioneira em reengenharia.
Wiersema não concorda com a afirmação de que a reengenharia, por si só, provoca invevitáveis cortes nas empresas. Segundo ele, organizações em crescimento prescindem das pessoas e podem adequar seus perfis com treinamento.
Responsável pela transformação em fortes empresas norte-americanas, como a Apple Computer, Ford, McDonald's e Xerox, o consultor, em parceria com Michael Treacy, escreveu o livro "The Discipline of Market Leaders".
Em março, desembarca em São Paulo para conduzir o seminário "Reengeneering for Custumer Value", organizado pela HSM.
Na semana passada, Wiersema concedeu a seguinte entrevista à Folha. Leia os principais trechos.

Folha - Reengenharia é hoje um termo usado para justificar qualquer transformação nas empresas. O senhor poderia apresentar esse conceito?
Fred Wiersema - Reengenharia significa encontrar uma maneira inteligente de administrar. Significa cortar as ineficiências e não desperdiçar tempo ou trabalho.
Folha - A finalidade da reengenharia é mudar o foco da produção e da gestão para o cliente?
Wiersema - Algumas pessoas diriam que sim, mas muitas não estão seguindo esse conceito. Embora a reengenharia garanta maior valor agregado aos clientes, vemos empresas que não se empenham em entender como essa eficiência melhora a satisfação do cliente.
Folha - Quem é o cliente de amanhã?
Wiersema - É um cliente mais exigente, instruído e seletivo. Ele vai escolher seus fornecedores com cuidado e não será fiel a eles.
Folha - Estamos construindo uma ditadura do cliente?
Wiersema - Sim, estamos. O cliente é um ditador, o imperador no momento. E não há nada que possamos fazer, a não ser assegurar que nosso foco esteja neles.
Folha - O que são os "value channels"?
Wiersema - Value channels são as combinações dos diferentes elementos que agregam valor aos clientes. Incluem fornecedores, empresa e distribuidores.
Folha - O senhor concorda que é impossível fazer reengenharia sem demitir?
Wiersema - Não concordo que seja impossível fazer reengenharia sem despedir funcionários. Tudo depende de um fator: se a empresa pode crescer e se vai continuar a crescer. Já vimos muitos projetos nos quais pessoas de uma área perderam seus empregos e foram treinadas para trabalhar em setores da empresa que começaram a crescer.
Folha - A reengenharia está sendo confundida com o downsizing (redução de níveis hierárquicos)?
Wiersema - Acho que sim. E isso é errado. Temos visto pessoas usarem técnicas de reengenharia para justificar o processo de tornar a empresa menor. Mas isso não torna a empresa mais forte. Para fortalecer a empresa é preciso assegurar que ela ofereça cada vez mais valor aos clientes. É isso que fará com que suas vendas aumentem. A pura e simples redução de despesas e de pessoal não vai necessariamente levar a essa finalidade.
Folha - Os profissionais deverão se adequar às mudanças impostas pela reengenharia?
Wiersema - Sim, cada profissional deve se perguntar: "O que eu, pessoalmente, faço que forneça excelente valor aos clientes?"
Se essa contribuição for forte, existe uma carreira possível. Do contrário, é melhor o profissional mudar o que está fazendo.
Folha - Os profissionais serão valorizados mais por seus conhecimentos gerais do que por suas especializações?
Wiersema - Acho que eles devem ser valorizados conforme seus esforços para satisfazer os clientes. Em alguns casos, isso depende de seus conhecimentos. Em outros, de suas especializações.
O ponto-chave é identificar o que eles fazem para que os clientes retornem à sua empresa e fiquem satisfeitos com o que você oferece.
Folha - O fracassos dos processos de reengenharia se devem a quais fatores?
Wiersema - Existem três fatores que precisam ser bem-feitos para que a reengenharia funcione. É preciso uma direção forte e dedicada, que apoie a reengenharia durante todo o processo.
A reengenharia também precisa ter alvos muito claros. Não leva a nada dizer "vamos melhorar tudo na empresa" ou escolher um ou dois processos sem saber a importância deles. A reengenharia precisa ter alvos muito claros.
A administração dos projetos deve ser forte para assegurar que essas idéias sejam implementadas com precisão e dedicação.
Folha - O senhor poderia dar exemplos de sucesso e fracasso?
Wiersema - Uma empresa que fracassou é a Massachussets Mutual, na região de Boston. Foi uma das primeiras a fazer a reengenharia e nada conseguiu.
Três anos depois de iniciar o processo, ela foi à falência porque não aplicou aqueles pré-requisitos que eu mencionei.
A empresa passou a comprar produtos pré-processados. Isso resultou em maior rapidez, custos mais baixos e clientes satisfeitos. O processo de produção melhorou e a empresa cresceu rapidamente.
Folha - Quantas empresas nos EUA fizeram reengenharia? Qual o percentual de sucesso?
Wiersema - A CSC Index fez uma pesquisa há poucos meses que indicou que entre 60% e 70% das empresas norte-americanas já fizeram reengenharia.
Dessas, cerca de 25% não conseguiram os resultados desejados. As restantes, 75%, disseram que obtiveram resultados variando entre ok e muito bons.

Tradução de Clara Allain

Texto Anterior: Técnica é usada por executivos
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.