São Paulo, domingo, 26 de fevereiro de 1995
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"Agora sou um mendigo do bom futebol", diz Galeano

Escritor uruguaio era fanático pelo Nacional de Montevidéu

ROBERTO MACHADO
DA SUCURSAL DO RIO

O escritor Eduardo Galeano se diz "um mendigo do futebol". Antes, fanático, agora se declara à espera de um time que o brinde com o milagre de jogar um bom futebol.
(RM)

Folha - Você torce para algum clube no Brasil? E no Uruguai?
Eduardo Galeano - Anos atrás, eu torcia pelo Nacional de Montevidéu. Era fanático. Tenho até um problema nos dentes por causa de briga de torcida. Mas agora sou um mendigo do bom futebol. Vou com o chapéu na mão, implorando: "me dá uma boa jogada pelo amor de Deus!".
Não me interessa a equipe ou o país que me brinde com esse milagre de jogar um bom futebol
Folha - E qual o time ou país que mais lhe brindou com bom futebol ultimamente?
Galeano - O Brasil, longe.
Folha - Você fala do time que venceu a Copa dos EUA?
Galeano - Não necessariamente. Às vezes não reconhecia o Brasil. Mas do pouco que se viu de bom nesta Copa, a seleção brasileira merece destaque.
Folha - A profissionalização seria um mal para o esporte?
Galeano - Não. O jogador deve ter o direito de viver com o que faz. Além disso, o prazo de vida útil dele não é muito longo, tem oito, dez anos.
Folha - Muitos jogadores se tornaram estrelas.
Galeano - É perfeitamente legítimo. Ele é o protagonista do espetáculo mais importante do século vinte.
Folha - Qual a maior época do futebol uruguaio?
Galeano - O Uruguai foi a primeira seleção latino-americana a jogar com sucesso na Europa. Ganhou a primeira Copa. O primeiro negro que a Europa viu jogando futebol era um uruguaio, Jose Leandro Andrade. Fantástico. O primeiro ídolo internacional do futebol foi negro, sul-americano e pobre. A imprensa européia chamou Andrade de "a maravilha negra".

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