São Paulo, domingo, 26 de fevereiro de 1995
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O FANÁTICO

"O fanático é o torcedor no hospício. A mania de negar uma evidência terminou por levar a pique a razão e tudo o mais, e, à deriva, navegam os restos do naufrágio em águas ferventes, sempre agitadas por uma fúria sem trégua.
O fanático chega ao estádio embrulhado na bandeira da equipe, (...) armado com objetos estridentes e contundentes, e já pelo caminho vem fazendo muito barulho e muita confusão. Nunca vem só. Infiltrado na torcida organizada, uma perigosa centopéia, o humilhado se faz humilhante e dá medo o medroso. A onipotência do domingo conspira contra a vida obediente do resto da semana. Liberado da jaula por um dia, o fanático tem muita coisa a vingar.
Em estado de epilepsia, olha o jogo, mas não consegue vê-lo. Vê a arquibancada. Ali está seu campo de batalha. A existência do torcedor do outro time constitui uma provocação inadmissível. Pelo Bem não é violento, mas o Mal o obriga a ser. O inimigo, sempre culpado, merece que torçam seu pescoço. O fanático não pode se distrair, porque o inimigo espia por todos os lugares. (...)"

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