São Paulo, domingo, 26 de fevereiro de 1995
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Estado investiga mais os crimes da RDA

SILVIA BITTENCOURT
ESPECIAL PARA A FOLHA

Desde a reunificação, em 1990, os alemães também investigam os crimes cometidos na República Democrática Alemã (RDA), a extinta Alemanha Oriental.
No que se refere à infra-estrutura, porém, o Estado parece investir muito mais hoje no esclarecimento de crimes cometidos na RDA do que algumas décadas atrás, na perseguição aos nazistas.
O Departamento Gauck, responsável por examinar a documentação do antigo serviço secreto alemão-oriental (a Stasi), tem atualmente três mil funcionários.
Já a Central para o Esclarecimento de Crimes Nacional-Socialistas, em Ludwigsburgo, contava nos anos 60 e 70 —auge de suas atividades— com apenas 120. Hoje, ela tem oito.
A sede do Departamento Gauck quase ocupa todo o prédio do antigo Ministério do Interior da Alemanha Oriental, em pleno centro de Berlim, fora o próprio arquivo da Stasi. Além disso, tem 14 representações na Alemanha.
Já na época de sua fundação, a Central reclamava de espaço.
"Talvez se priorize o que é mais recente", disse Alfred Streim, da Central. Ele acrescentou ser importante esclarecer logo os crimes cometidos na RDA.
Os alemães-orientais viveram 40 anos sob uma ditadura socialista. A RDA se dizia antifascista e pregava uma sociedade justa, mas seu serviço secreto perseguiu oposicionistas com métodos não muito melhores que os da Gestapo, a polícia secreta nazista.
A Stasi era uma organização armada com 85 mil funcionários, mais de 150 mil agentes e colaboradores inoficiais. Ela estava infiltrada em todos os setores da sociedade alemã-oriental. Seu arquivo é gigante. Ali estão 35,7 milhões de fichas e documentos.
Agora o governo alemão tem um encarregado especial para examinar esta documentação. É o teólogo Joachim Gauck, diretor do Departamento leva seu nome.
O Departamento Gauck tem a função de informar todo cidadão dos dados levantados pela Stasi sobre a sua pessoa, assim como esclarecer o contato de colaboradores com aquele serviço secreto.
O órgão já recebeu mais de 2,5 milhões de pedidos nesse sentido.
O Departamento também fornece material para possíveis processos criminais. Neste ponto, ele tem uma função semelhante à da Central para Esclarecimento de Crimes Nacional-socialistas.
Como a Central, o Departamento Gauck não acusa, mas pode participar às promotorias os casos em que suspeita de crime.
(SB)

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