São Paulo, domingo, 26 de fevereiro de 1995
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Alemanha ainda caça criminosos de guerra

SILVIA BITTENCOURT
ESPECIAL PARA A FOLHA, DE BERLIM

Quase 50 anos depois do fim da Segunda Guerra Mundial, a Alemanha continua a procurar criminosos nazistas.
Cerca de 60 casos estão sendo ainda investigados pela Central para o Esclarecimento de Crimes Nacional-Socialistas, um órgão do Ministério Público alemão com sede em Ludwigsburgo (sul do país).
Além disso, mais de oito mil processos referentes a crimes nazistas estão pendentes na Justiça.
Segundo disse à Folha por telefone o diretor da Central, o promotor Alfred Streim, todos os casos dizem respeito a morte premeditada, como as ocorridas em campos de concentração.
Os demais crimes —homicídio não-premeditado, lesão corporal, roubo, denúncia e privação da liberdade— prescreveram e não são mais investigados.
Um dos casos da Central diz respeito ao assassinato de prisioneiros que numa operação de retirada de um campo de concentração na Polônia não tinham forças para andar e foram fuzilados por soldados nazistas.
Segundo Streim, esses soldados foram provavelmente recrutados de diversas tropas da SS —a mais poderosa e temida organização nazista, responsável pela polícia e serviço secreto, assim como pelos campos de concentração. Eles não formavam uma unidade específica, o que dificultou a investigação.
Mas num depoimento realizado pouco tempo atrás, chegou-se a algumas pistas. "É isto que perseguimos agora", disse.
"É uma corrida contra o tempo, fica cada vez mais difícil levar um acusado para o banco dos réus".
Até hoje 105 mil pessoas foram acusadas por crimes cometidos durante a ditadura nazista. Deste total, apenas 6.500 foram condenadas. Calcula-se que cerca de seis milhões de judeus morreram nos campos de concentração nazistas.
Segundo Streim, as investigações foram prejudicadas por uma série de obstáculos. Entre eles, a legislação dos países aliados —que depois da Segunda Guerra Mundial ocuparam a Alemanha e limitaram sua jurisdição— e a prescrição de crimes não-premeditados, decidida pelo Parlamento alemão em 1960.
A prescrição impediu a perseguição de muitos suspeitos.
A Central foi criada em 1958, com a função de investigar denúncias e documentos referentes a crimes cometidos durante a ditadura de Adolf Hitler. Para isso, ele reuniu todo o material disponível, que até então se encontrava espalhado, em poder dos países aliados.
Com a ajuda desta instituição, por exemplo, o "caçador de nazistas" Simon Wiesenthal descobriu e levou para a justiça vários criminosos. A Central também forneceu documentação para grandes processos, como os dos campos de extermínio de Auschwitz (1963-1966) e de Majdanek (1975-1981).
Ao completar a investigação de um caso, a Central encaminha seu material para uma promotoria, que abre um processo. Ela não tem a função de acusar.
A Central existirá até terminar de investigar todos os casos que ainda podem levar a alguma acusação. Até hoje ela recebe denúncias vindas da Polônia, onde estavam localizados os campos de extermínio nazistas.
Atualmente, a Central também examina os documentos do antigo serviço secreto alemão-oriental.
Antes de sua derrocada, a Alemanha Oriental se recusava a colaborar nas investigações de crimes cometidos durante o nazismo.

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