São Paulo, domingo, 26 de fevereiro de 1995
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Um pouco de ficção

DALMO MAGNO DEFENSOR
ESPECIAL PARA O TV FOLHA

Um dia desses, cismei de cortar ao meio um de meus velhos tênis. Sem ferramentas capazes de fazê-lo, fui consultar meu vizinho, um artista plástico. Ele disse possuir uma faca importada excelente para cortar tênis, e teria prazer em emprestá-la —desde que eu aguardasse alguns minutos, pois ele a estava usando para cortar pregos, filés, pedaços de canos, tomates, peixes e notas de um dólar para montar uma "instalação" em uma galeria de arte.
Enquanto ele trabalhava e eu tentava imaginar que diabo seria uma "instalação", sua mulher comentou, em tom casual, que naquela manhã estava parada em um sinal quando um homem se aproximou do carro, borrifou ácido no capô, ateou fogo e saiu correndo.
Horrorizado, imaginando a lataria esburacada e carbonizada, perguntei se eles tinham seguro. Sorrindo, meu vizinho explicou que nada havia acontecido porque o carro havia sido tratado com um fantástico polidor, resistente a ácido e fogo, adquirido pelo telefone após verem o anúncio na TV: "Basta discar, e você poderá ter em sua casa o polidor. E também um removedor que deixa limpinho qualquer carpete, mesmo que tenha ficado sobre ele o público dos Stones em noite de chuva. Sem falar das meias que não furam, e lindos óculos antiofuscamento. E de onde pensa que tirei a idéia da 'instalação'? Foi do anúncio da faca! Mas, diga-me: quanto você pagaria por esses produtos? Não responda ainda, porque vou ao toalete."
Será que "instalação" é quando a propaganda fica instalada no cérebro?

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