São Paulo, domingo, 26 de fevereiro de 1995
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Criatividade é fazer o público crer na novela

Novelistas revelam genialidade ao escreverem tramas longas

EDLA VAN STEEN
ESPECIAL PARA O TV FOLHA

Gilberto Braga estaria mesmo em crise de criatividade? Ele ou a equipe? Hoje em dia é difícil saber-se quem está ou não escrevendo uma novela, porque a autoria é de muitos. Aliás, não estaria aí um dos problemas, a exagerada divisão da autoria?
Houve tempo em que autores escreviam sozinhos 150 capítulos e sofriam solitários as dificuldades impostas pelo veículo ou circunstância. Era preciso ter coragem e perseverança para renovar os padrões: Dias Gomes, Bráulio Pedroso, Jorge Andrade e Lauro Cesar Muniz foram seminais. Apesar de tudo e de todos, conseguiram renovar.
Afinal de contas, não é a novela um longo comercial? Um comercial que se paga lá pelo capítulo cem? Aí é que está: esse negócio de esticar não tem dado certo. Os contratos de publicidade bem poderiam exigir que as novelas obedecessem rigorosamente às propostas iniciais, para garantir inclusive confiabilidade ao produto.
Os dramaturgos de televisão, todos, sem exceção, mostram genialidade quando têm que segurar ficcionalmente uma história que deve ser esgarçada "ad nauseam". "Pátria Minha" beira os 200 capítulos. Resistir a todos os percalços, os rompimentos de contratos, os acidentes, e continuar mantendo o faz-de-conta não é para qualquer um. É preciso ter talento. E que talento!
A força de um Gilberto Braga é que dá a atrizes com Eva Wilma a oportunidade de mostrar o seu amadurecimento: sua Teresa Pelegrini tem tido momentos brilhantes. Tarcísio Meira conseguiu, em "Pátria Minha", suas melhores performances. É o veículo certo para o ator. E Vera Fischer? Uma pena o que aconteceu. Ela é sem dúvida a grande diva da televisão brasileira. Só precisa se convencer disso e não jogar a sorte pela janela.
Já pensaram o que é ficcionalmente uma história, quando atores e atrizes estão na boca do povo, misturando as coisas? A fábula e o lado operístico, como é que ficam?
E os autores têm que reescrever 25 cenas diariamente, dando a volta por cima, fazendo com que o público esqueça a realidade e acredite na novela. Não se pode negar que isso é um respeitável exercício de criatividade. Os novelistas se transformam, imediatamente, em quebradores de galho, em mestres do jogo de cintura.
E os atores? Em "Pátria Minha", regravaram cenas e dobraram carga horária sem receber um tostão a mais. Em geral, com muita competência.
Mas não aplacaram a gritaria. Pode existir algo mais vulnerável à crítica do que novela de televisão? O país inteiro é crítico da telinha.
Tudo bem. Em "Pátria Minha" o personagem Raul Pelegrini tornou-se insuportavelmente inverossímil, e vários temas se perderam no decorrer dos capítulos. Cadê o Rafael, de Fúlvio Stefanini? Morreu?
Não se sabe ainda como a novela vai acabar. Mas espero que Gilberto Braga consiga vencer todos os obstáculos e terminar bem o que tanto sofreu para resolver. Ele merece (a equipe também).

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