São Paulo, domingo, 26 de fevereiro de 1995
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Cão sarnento é principal fonte de inspiração para Juca Cipó

RONI LIMA
DA SUCURSAL DO RIO

Ao se deparar com um cão sarnento, o ator Murilo Benício, 23, encontrou a sua principal fonte inspiradora para compor o jagunço Juca Cipó, que interpreta na novela das seis da Globo "Irmãos Coragem".
"Ele tinha um olhar de carência muito grande. Era o próprio Juca Cipó", conta o ator, que já tinha planejado observar doentes mentais para construir seu personagem.
Seus esforços incluiram também atos de transfiguração física dignos de Robert de Niro (leia texto ao lado) como o de mandar serrar um dos dentes incisivos, acentuando uma pequena falha já existente.
"Para mim é assim, não tem meio termo não", diz informando que, após a novela, irá ao dentista colocar uma porcelana.
Perfeccionista, Benício ainda não estava satisfeito e pensou em passar máquina zero nos cabelos. A chacina capilar foi vetada pelo então diretor-geral da novela, Luiz Fernando Carvalho.
Decidiu, então, cortar o cabelo rente e cheio de falhas. Por sugestão de Carvalho, picotou a sobrancelha direita e deixou a barba mal cortada —além de passar diariamente óleo no rosto e maquiagem nas unhas para parecer bem sujo.
Além das metamorfoses físicas, Benício também usa a música para elaborar seus personagens. No caso do vago e cambaleante Juca Cipó, o ator buscou auxílio na canção argentina "Un Vestido Y un Amor", de Fito Paez, gravada por Caetano Veloso no disco Fina Estampa.
"A música faz parte de toda inspiração. Eu ouço tudo." Escolhida a composição que vai auxiliá-lo, Benício tranca-se em um quarto escuro para ouvi-la exaustivamente.
Esse artifício, segundo ele, ajuda, mas não determina o êxito da elaboração. "É muito difícil preparar um personagem. Todos que pego, tenho plena certeza que não vou conseguir fazer. Sempre acho que estão além dos meus limites", afirma Benício.
Quanto ao seu Juca Cipó, o ator insiste na autocrítica: "O básico já está feito. Mas sempre pode melhorar um pouco."
Mas acaba dando uma colher de chá ao vilão das seis: "Adoro meu personagem, mas todo dia saio exausto daqui, mental e fisicamente. Sinto dores musculares pelo corpo."
Em casa, no bairro de São Francisco, em Niterói (a 14 quilômetros do Rio de Janeiro), Benício ainda encontra pela frente a vigilância da mãe, Berenice, e do irmão Mário —os maiores críticos de seu trabalho.
"Eles são meus diretores, ficam sempre me regulando, dizendo que isso está bom, que aquilo tem que melhorar", afirma. A mãe vai mais longe, orientando seu comportamento diante da legião de fãs.
O ator se considera muito tímido e acredita que muitas pessoas devem achá-lo antipático. Berenice trata, então, de dar-lhe lições de como agir. "Ela pega no meu pé, dizendo para eu ser simpático, rir, dar autógrafos", conta.

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