São Paulo, segunda-feira, 27 de fevereiro de 1995
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Acusada de transmitir HIV nega prostituição

ULISSES DE SOUZA
DA AGÊNCIA FOLHA, EM CONCEIÇÃO DE MONTE ALEGRE

Acusada de prostituição e de contagiar seus parceiros com o HIV, Selma Regina de Jesus, 36 —presa dia 30 de janeiro e solta no último dia 21—, diz que contraiu o vírus da Aids usando drogas injetáveis, em 81, quando morava em Salvador (BA), e que não é prostituta.
Por causa das acusações, que nega, ela ficou 21 dias presa na cadeia de Lutécia, no interior de São Paulo. Agora, aguarda em liberdade sua sentença final, que será proferida dentro de 30 dias.
Leia a seguir trechos da entrevista concedida em Conceição de Monte Alegre, distrito de Paraguaçu Paulista (a 510 km de SP).

Agência Folha — Você é portadora do vírus da Aids?
Selma de Jesus — Fiz um teste Elisa em 1987 e deu positivo.
Agência Folha — Como você contraiu o vírus?
Selma — Eu usei droga injetável em 81, na Bahia.
Agência FolhaAgência Folha — O que você fazia lá?
Selma — Era hippie.
Agência Folha — Você é acusada de prostituição e de transmitir Aids aos parceiros. Isso é verdade?
Selma — Não sou prostituta. Casei na Bahia em 81 e desse casamento nasceu um filho, que tem 16 anos. De lá para cá vivi com seis companheiros e com um deles tive outro filho, que está com seis anos. Mas nenhum tem o vírus.
Agência Folha — Como foram as relações sexuais com eles?
Selma — Conscientes, com preservativos.
Agência Folha — Fora desses casamentos, você teve parceiros?
Selma — Tive.
Agência Folha — E como foi?
Selma — Com preservativos. Eu sempre fui desconfiada e também tinha medo de pegar o vírus.
Agência Folha — Você frequentava a boate da sua mãe?
Selma — Não. Desde os 12 anos de idade não convivo com a minha mãe. No ano passado vim dar uma força para ela na danceteria e conheci o Marcos, que era um segurança no local, com o qual passei a morar.
Agência Folha — Mas e a acusação de que você se prostituía na boate?
Selma — É mentira. Sempre trabalhei, nunca fui prostituta.
Agência Folha — Há testemunhas que confirmam que você as contagiou.
Selma — A delegada de Paraguaçu Paulista disse em entrevista a uma TV que foram quatro pessoas na cidade de Bastos e três na cidade onde ela trabalha. Ela vai ter que mostrar essas vítimas. Quero ver se eles me acusam. Estou disposta a uma acareação. Se ela não provar, não sei o que vou ser capaz de fazer.
Agência Folha — É um desafio?
Selma — Sim. Desafio qualquer pessoa a de dizer que pegou o HIV de mim.
Agência Folha — Você pensa em entrar com alguma ação?
Selma — Eu nunca prejudiquei ninguém, por isso quero uma reparação por danos morais.

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