São Paulo, segunda-feira, 27 de fevereiro de 1995
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Crianças andam armadas

AURELIANO BIANCARELLI
DO ENVIADO ESPECIAL

Gabriel sabe carregar e descarregar uma escopeta semi-automática tão rápido quanto um adulto.
Ele tem 7 anos e vai à escola, mas quando crescer quer ser miliciano. "Quero cuidar do bairro". No morro do Picacho, ao norte de Medellín, onde Gabriel mora, milícias aceitaram o "acordo de paz" do governo. Agora são vigilantes oficiais com uniforme, armas e salários.
Juanito, nome de guerra de um dos vigilantes, diz que já participou de muitos "ajusticiamentos" e tiroteios com outros grupos. "Não sei quantos matei", diz.
Juanito tem 17 anos. Quando começou nas milícias tinha 15. "Quando vamos matar alguém, fico com pena das mães chorando. Mas estou cumprindo uma missão."
Meninos passeiam com escopetas nas mãos. "Por qualquer coisa matam outra criança", disse um morador.
Nos muros e paredes das casas estão escritos nomes dos milicitanos que morreram em choque com outros grupos.
Adolescentes desfilam armados pelas ladeiras. Eles só se deixam fotografar com o rosto coberto. "Muita gente quer nos matar", diz Juan Carlos, 30. "Nesta cidade, há muita dívida de sangue para ser cobrada."
(AB)

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