São Paulo, segunda-feira, 27 de fevereiro de 1995
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Prostitutas invadem bairro oriental

ANDRÉ LOZANO
DA REPORTAGEM LOCAL

Prostitutas jovens estão trocando a "boca do lixo" pela Liberdade, bairro de imigrantes orientais na região central de São Paulo. Elas dizem que a mudança traz segurança, dispensa gigolôs e proporciona melhores clientes: os japoneses.
Karen, 18, trabalha na rua da Glória, uma das mais tradicionais do bairro, há três semanas. Até o mês passado, o seu ponto era na rua Major Sertório, na chamada "boca do lixo", centro da cidade.
"Optei pela Liberdade porque é um bairro mais seguro. Não estamos cercados de traficantes e não temos de ver assassinatos quase todas as madrugadas", diz ela.
Karen começou a trabalhar "na noite" há dois anos, depois que perdeu o emprego de garçonete em um restaurante no Largo do Arouche (centro). "Eu tinha um salário que me dava um padrão de vida que não queria perder. O jeito foi ir para a rua", diz a garota, que ganha cerca de R$ 200 por noite.
Ela e sua colega Cibelle, 19, dizem que, além da segurança, o outro atrativo do bairro são os seus moradores e clientes, em sua maioria japoneses e coreanos.
"Eles são ótimos porque pagam bem, têm o membro pequeno e gozam rápido", afirma Cibelle, que não esconde sua preferência pelas mulheres.
"Os brasileiros sempre choram por desconto, ficam muito tempo com a gente e muitas vezes ainda nos batem", contou Vanessa, 17.
Segundo estimativa da Pastoral da Mulher Marginalizada, a prostituição de rua na Liberdade aumento cerca de 40% nos últimos dois anos. "Hoje existem mais de 50 prostitutas espalhadas pelas ruas do bairro", disse a colaboradora da entidade Cleusa de Andrade.
Karen, Cibelle, Vanessa e outras duas garotas, Márcia, 22, e Sheila, 18, dizem que não têm cafetões. "O que ganhamos é nosso. Nem caixinha para policiais somos obrigadas a dar", afirmou Karen.
As prostitutas teens dizem que estão "nessa vida" para juntar dinheiro para algum objetivo específico. "Quero ter grana para voltar para a minha terra, Minas Gerais", afirmou Karen.
"Saio dessa vida quando juntar dinheiro para criar minha filha, que está em poder da Justiça", diz Cibelle. "Quero alugar um bom apartamento", afirma Márcia.

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