São Paulo, segunda-feira, 27 de fevereiro de 1995
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Na seleção brasileira, a vez é da garotada

ALBERTO HELENA JR.
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

Lá estava o Dunga, um gigante de papelão, erguendo a taça. E fechando com chave de ouro a marcha (sem trocadilho) da Leandro pela avenida em busca da felicidade.
Ao vivo, Viola, no mesmo carro alegórico do Dunga, acenando para a galera, como a dizer que ele continua no páreo, atrás de um lugar na seleção, que, no final, representa a conquista da felicidade para qualquer jogador de futebol.
Aí eu pergunto: que lugar? Zagallo parece encantado com seus meninos de ouro, que ainda outro dia desencantaram diante da Eslováquia. Juninho, Souza, Sávio, essa turma toda deu um claro sinal de que chegou para ficar.
Mas eis um desfile que mal começou, se levarmos em conta que a apoteose só será alcançada daqui três anos, na Copa da França.
Para ficarmos apenas com os componentes dos setores de meio-campo e ataque, há uma verdadeira legião de candidatos de primeiro time: Zé Elias, o Leandro que não é de Itaquera, Mauro Silva, Souza, Juninho, Amoroso, Viola, Rivaldo, Válber, Marques, Marcelinho, Sávio, Romário, Bebeto, Luisão, Reinaldo, Ronaldo, esse menino Giovanni, do Santos, o quase dente-de-leite tricolor Denílson, Túlio, Dejair, Bentinho, Edmundo e sei lá quantos jogadores mais que ainda estão apenas quebrando a casca do ovo, nesse milagre brasileiro que se renova a cada temporada.
Por isso, o sonho zagalliano de disputar a Copa América com a equipe-base que deverá ir para a Olimpíada deveria se materializar em realidade.
Malandro velho, porém, Zagallo sabe que não pode se expor: o brasileiro quer, como a escola de Itaquera, a felicidade agora e sempre.
E, nas quatro linhas, só a vitória traz a felicidade. Logo, disputar a Copa América com a garotada significa correr o risco de levar uma biaba com a consequente blitz da mídia sobre o treinador.
Tenho minhas dúvidas se isso ocorreria no caso presente. Já exorcizamos o fantasma da Copa perdida há duas décadas com a conquista recente do tetra. E o entusiasmo da própria mídia em torno dos novos valores, de certa forma, cria uma cumplicidade com o treinador e seus anseios.
Além do mais, os exemplos são muito recentes: Lazaroni, com o perdão da palavra, ganhou a Copa América e deu vexame no Mundial. Zagallo e Parreira perderam o torneio sul-americano e levantaram o tetra.
Agora, a Olimpíada é a nossa meta. Logo, é a vez da garotada.

Dois gestos opostos e exemplares: enquanto Telê cortava inexplicavelmente Catê da delegação tricolor que seguiu para o Japão, arrasando o garoto que vinha em franca recuperação, Mário Sérgio recolheu o arrasado (pelo mesmo Telê) Elivélton e abriu-lhe um vasto leque de esperanças.
Não sei, nem pretendo desvendar, o que vai no íntimo das pessoas. Só sei que, da mesma forma que Telê é o mais habilitado técnico de futebol deste país, Catê é um dos raros pontas desse mesmo futebol capaz de unir aos seus pés velocidade, habilidade, determinação e solidariedade.
Se lhe derem uma chance pra valer, fixando-o no time por cinco, seis jogos, Zagallo vai ter mais uma doce dor de cabeça.

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