São Paulo, terça-feira, 28 de fevereiro de 1995
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Falência do banco Barings derruba as Bolsas do mundo

ROGÉRIO SIMÕES
DE LONDRES

As Bolsas de Valores de todo o mundo caíram ontem como reflexo da falência do banco Barings, o mais antigo do Reino Unido.
O marco alemão atingiu valorização recorde perante a libra esterlina e demais moedas européias. O dólar despencou nos mercados europeus frente ao marco.
O governo britânico determinou ontem o início de uma investigação sobre as aplicações feitas por Nick Leeson, 28, que levaram à falência do Barings.
Leeson provocou, em pouco mais de uma semana, a falência de uma instituição cujas operações somam cerca de 17 bilhões de libras (US$ 27,2 bilhões) em derivativos nos mercados de Cingapura e Japão.
A falência do banco causou uma queda brusca da libra, cujo preço era de 2,2993 marcos na manhã de ontem. Ao final do dia, a moeda britânica recuperou-se e chegou a 2,3067. Na sexta-feira, a libra havia fechado a 2,3286 marcos.
A Bolsa de Tóquio foi a mais afetada, caindo 3,8%, com o índice Nikkei fechando em 16.808,70 pontos. A queda fez crescer os prejuízos do Barings em US$ 280 milhões, segundo operadores do mercado, pois Nick Leeson tinha posições de longo prazo no mercado japonês.
A Bolsa de Tóquio anunciou que o Barings está impedido de exercer seus direitos no mercado, incluindo qualquer operação financeira a partir de hoje. Em Hong Kong, houve baixa de 2,08% e em Cingapura, de 4,1%.
Em Nova York, o índice Dow Jones perdeu 0,58%, fechando a 3.988,57 pontos, com investidores realizando lucros.
Em Londres, depois de despencar no início do pregão de ontem, o índice Financial Times de 30 ações perdeu 0,36% de seu valor, fechando a 2.297 pontos.
O índice CAC da Bolsa de Paris fechou com baixa de 0,20%, depois de ter perdido 1,11%. Em Milão, o índice Mibtel fechou com baixa de 1,12%.
O ministro britânico da Fazenda, Kenneth Clarke, preferiu não interferir no mercado para conter a queda da libra. À tarde, Clarke fez um pronunciamento de emergência no Parlamento. Para ele, o que aconteceu com o Barings poderia ter acontecido a qualquer banco de outra nacionalidade.
O governo acredita que o episódio deverá se restringir ao banco e não se transformará em uma crise de mercado.
O ministro do gabinete paralelo da Fazenda, Gordon Brown, criticou a falta de informações do Banco da Inglaterra sobre os resultados das operações de Nick Leeson. "O banco deveria ser o primeiro a descobrir e não o último a saber", disse Brown.
O presidente do Banco da Inglaterra (banco central), Eddie George, passou o final de semana tentando convencer outros banqueiros a salvar o Barings, mas não conseguiu porque não se podia ainda determinar o montante envolvido nos investimentos feitos por Leeson.
Os operadores que trabalham com derivativos são obrigados a informar seus bancos ao final de cada dia se houve lucros ou prejuízos e a quantia aplicada.
Leeson, considerado por colegas "brilhante" em sua atividade, ocultava suas ações em nome do banco. Até ontem, suas operações tinham provocado um prejuízo de 600 milhões de libras (US$ 960 milhões).
Membros do Parlamento chegaram a criticar abertamente a expansão da atividade de derivativos, considerada por muitos perfeita para a especulação financeira.
O interventor Nigel Hamilton disse ontem que já houve demonstrações de interesse de entidades financeiras britânicas e estrangeiras na compra do Barings.

Com agências internacionais

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