São Paulo, terça-feira, 28 de fevereiro de 1995
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

O reinício das câmaras setoriais

LUÍS NASSIF

A derrocada parcial da câmara setorial da indústria automobilística demonstra de maneira extremamente didática os limites da ação de governo em ambientes democráticos. E comprova que, sem processos democraticamente discutidos, e embasados em objetivos nacionais, qualquer política pública é tão sólida quanto uma medida provisória que se desmancha no ar.
A primeira câmara foi bem sucedida porque amarrava compromissos de todos os setores em torno de objetivos comuns: permitir ao país salvar sua indústria automobilística e firmar-se como o grande fornecedor mundial de carros populares.
Criou-se um controle social tão expressivo sobre o setor que, no início do ano passado, sem Sunab e sem CIP, a opinião pública barrou o arreglo entre montadoras e sindicalistas, visando romper o acordo de preços.
Engenharias sociais não dependem de regulamentos e leis. Consolidam-se pela habitualidade e pela observância expressa de seus princípios. No caso da câmara setorial, a legitimidade consistia em um processo de consultas amplas e de decisões compartilhadas.
Rompido o princípio, ocorreu com a câmara o fenômeno que os físicos estudam na teoria do caos. Um movimento imprevisto provoca movimentos sucessivos cada vez mais agudos, que acabam destruindo por completo o equilíbrio original.
Faz bem a ministra Dorothéa Werneck, da Indústria e Comércio, em suspender provisoriamente o processo, e tentar reformulá-lo em torno de objetivos nacionais. As câmaras têm que se constituir em fóruns permanentes de modernização e de competitividade. Fora disso, tudo acaba se reduzindo a interesses corporativos menores.

O inventário da Previdência
Setores técnicos da Previdência Social, sem vinculação política, identificam as seguintes etapas na história recente do órgão. A etapa Antônio Magri significou o atraso de todos os processos contra devedores. Depois, ainda no governo Collor, veio a etapa Reinhold Stephanes, com o início da recuperação do órgão. Com o impeachment, assume o ministro Antônio Britto, cuja gestão pode ser dividida em duas etapas.
Na etapa Britto-1, que durou seis meses, foi mantida a estrutura básica montada por Stephanes, e colhidos os frutos plantados por ele. A etapa Britto-2, nos seis últimos meses de gestão, significou a volta dos atrasos nos processos. Para quem olhava o órgão a partir da linha de frente da fiscalização, foi um período bastante semelhante ao de Magri.
Finalmente, a etapa Cutolo, com o órgão já vivendo o impasse da reforma.
Esses setores sustentam que o inventário do período Britto-2 irá criar dificuldades no relacionamento do governo com seus aliados.

Texto Anterior: Greve cresce na Alemanha
Próximo Texto: Falência do banco Barings derruba as Bolsas do mundo
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.