São Paulo, terça-feira, 28 de fevereiro de 1995
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Bolsas reagem mal a novo pacote argentino

SÔNIA MOSSRI
DE BUENOS AIRES

O mercado financeiro reagiu com desconfiança ao novo pacote fiscal adotado pelo presidente Carlos Menem.
O governo cancelou leilão de títulos públicos que faria nesta terça-feira. A Bolsa de Valores de Buenos Aires registrou ontem queda de 5%.
Uma das principais medidas é a redução de até 15% dos salários do funcionalismo público do Poder Executivo em até 15%.
O secretário da Fazenda, Ricardo Gutiérrez, afirmou ontem que o corte de US$ 1 bilhão no Orçamento de 95 não atingirá obras públicas. Por isto mesmo, os agentes financeiros não estão seguros de que o presidente Carlos Menem deseja efetivamente cortar despesas antes das eleições de 14 de maio.
No final da tarde de ontem, o ministro da Economia, Domingo Cavallo, reuniu-se com 500 empresários, banqueiros e economistas para explicar as medidas de contenção de gastos e tentar resgatar a confiança dos investidores institucionais.
"Não haverá desvalorização do peso argentino. É imperativo recuperar nossa confiança. Quando retiramos depósito ou mandamos recursos para o exterior, aumentamos a desconfiança", disse Cavallo.

Leilão cancelado
Antes deste encontro de Cavallo, o Banco Central foi obrigado a cancelar leilão de US$ 200 milhões em Letras do Tesouro que seria realizado hoje para não pagar taxas de juros reais de 15% ao ano reivindicadas pelo mercado.
Já na última semana, as taxas subiram cerca de três pontos em relação ao leilão da semana anterior. A colocação de papéis teria como objetivo obter recursos para pagamento da dívida pública.
Para não pagar taxas elevadas, Cavallo tentará um acerto com o FMI (Fundo Monetário Internacional). Com isto, o Fundo liberaria imediatamente cerca de US$ 400 milhões.
Além disso, as ações do governo federal na empresa de petróleo YPF (Yacimientos Petrolíferos Fiscales) serão usadas como garantia para contratação de empréstimo junto a bancos internacionais.
Todas as medidas no novo pacote fiscal serão enviadas ao Congresso hoje, mediante decreto presidencial de "máxima urgência".
Durante o encontro com empresários, Cavallo admitiu que existe um déficit de US$ 2,5 bilhões no Orçamento de 95 por causa da queda da arrecadação. Ele deseja cobrir isto com corte nos gastos e combate à evasão fiscal.
Cavallo não criou nenhum novo imposto, mas ampliou a base de arrecadação do Imposto sobre Riqueza. O decreto emergencial de Menem prevê a taxação de ações, títulos e depósitos a prazo fixo.
Os contribuintes poderão utilizar títulos da dívida mobiliária federal para pagar débitos junto ao fisco.
No esforço de recuperar a credibilidade da população no programa de estabilização, Cavallo mudou o comportamento, adotando sugestões da equipe do ministro da Fazenda, Pedro Malan.
Ele gravou no início da tarde de ontem um pronunciamento, previsto para exibido na noite de ontem em cadeia nacional de rádio e televisão.
Apenas com a redução salarial, Cavallo quer economizar US$ 196 milhões. Os funcionários com vencimentos entre US$ 2 mil e US$ 3 mil, terão uma redução de 5%.
Acima de US$ 3 mil a US$ 4 mil, a redução é de 10%. Para salários superiores a US$ 4 mil, a redução é de 15%, informou o ministro da Economia.
Ao contrário da Constituição brasileira, as normas constitucionais argentinas não trazem dispositivos contra a redução salarial.
O ministro Cavallo tem viajado também ao exterior para tranquilizar investidores e banqueiros internacionais sobre a situação da economia argentina. Após a crise do México, cresceram os rumores de que a Argentina caminha no mesmo rumo, já que mantém há anos a chamada "âncora cambial".
O presidente Menem também procura garantias do governo brasileiro de que o real não será desvalorizado, o que prejudicaria as exportações argentinas.

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