São Paulo, terça-feira, 28 de fevereiro de 1995 |
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Diretor defende internacionalização
INÁCIO ARAUJO
Suas posições e temperamentos, no entanto, foram frequentemente opostos. Desde "Menino de Engenho" (1965), deu o melhor de si num registro clássico, o mesmo de "Inocência" (1982) e "Ele, o Boto" (1986). Hoje, ele critica suas buscas em outras direções, como a "carnavalização" de "Brasil Ano 2000" (1968). Para Lima Jr., "desde Lumière" o espectador vai ao cinema para acreditar no que vê. A tendência a colocar o conceito à frente do próprio filme, que se difundiu no cinema brasileiro, não o agrada. Lima Jr. entende que um dos grandes equívocos do Cinema Novo foi a ausência de "alvo" da maior parte dos filmes —a incapacidade de definir um público. Ele acredita, também, que a crença em uma idéia terceiro-mundista afetou toda a política do cinema brasileiro. Isto é, que se optou por criar "um grande gueto" nacionalista, no momento em que o cinema se internacionalizava. Por isso, defende a experiência do Instituto Nacional do Cinema (INC), criado em 1967, do qual o primeiro presidente foi o cineasta Flávio Tambellini (1927-1976). O INC criou um mecanismo para que as companhias estrangeiras investissem parte de seus lucros em filmes brasileiros. Quando, nos anos 70, surge a Embrafilme, a parcela de lucros retidos passa a ser distribuída pela estatal. É a isso define como "fisiologismo". Desde a extinção da Embrafilme, em 1990, o cinema brasileiro tenta reencontrar uma perspectiva de "internacionalização". Mas ele faz críticas à atual Lei do Audiovisual, no seu modo de ver "péssima", pois o investidor "não sabe se se é dono do filme ou não, se pode distribuí-lo ou não". Ao mesmo tempo em que defende a internacionalização como única maneira possível de retomar a produção de filmes no Brasil, Walter Lima tem se mostrado um cuidadoso cultor da tradição. Próximo de Humberto Mauro (1897-1983), o diretor de "Ganga Bruta" (1931/32), revela sua fascinação por "Limite" (1930), de Mário Peixoto, considera a chanchada como uma experiência limitada, e tem "O Cangaceiro" (1952), de Lima Barreto, como o filme que o aproximou do cinema brasileiro. Iconoclasta, entende que Glauber Rocha criou toda uma teoria para justificar as precariedades técnicas de "Deus e o Diabo na Terra do Sol", acabou se tornando prisioneiro de sua fama e nunca aprendeu a contar uma história em imagens. Nem por isso deixa de manifestar sua admiração pelo cineasta maior do Cinema Novo. Walter Lima Jr. dirigiu no ano passado, com produção americana, o longa-metragem "O Monge e a Filha do Carrasco" (IA) Texto Anterior: Walter Lima Jr. critica Cinema Novo Próximo Texto: Coluna Joyce Pascowitch Índice |
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