São Paulo, terça-feira, 28 de fevereiro de 1995
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O redesenho do México

A estratégia do governo do México para enfrentar a grave crise iniciada em dezembro do ano passado parece ser diminuir as importações através da recessão e tentar atrair novamente parte dos capitais financeiros por meio de altíssimas taxas de juros. É isso o que sinaliza o governo e demandam os credores dos empréstimos bilionários que socorreram o país.
Com o fracasso da política de financiar os déficits comerciais com recursos financeiros de curto prazo, o país não tem alternativa senão reduzir drasticamente as importações e estimular as exportações. A política econômica que se anuncia responde ao forte constrangimento externo. Mas traz consigo perspectivas ruins para o país —ainda que talvez inevitáveis.
A economia provavelmente retrocederá este ano, perdendo-se parte do crescimento obtido até 94. O desemprego deve aumentar e o salário real, diminuir. A necessidade de cortes nos gastos públicos impõe reiteradas pressões contra a correção de aposentadorias e pela redução de verbas sociais.
Ainda que essas medidas possam ser consideradas como uma imposição das circunstâncias, é sempre grande o ônus do governo que as implementa. No caso do México, a crise pode ter desdobramentos para além da economia. Governado há 65 anos pelo mesmo partido, o PRI, o pouco democrático sistema político do país já vinha mostrando sinais de tensão antes mesmo de estourar a crise econômica.
A repercussão política da fracamente armada guerrilha do Estado de Chiapas mostrou que as críticas à legitimidade do sistema político atual encontram eco na sociedade. As especulações de que o assassinato do candidato oficial antes das eleições tenha sido expressão da luta entre diferentes grupos do partido governista podem indicar uma fratura no arranjo que até agora governava o México.
A insegurança financeira e o temor de desdobramentos ainda mais graves para a América Latina parecem ter-se reduzido. Mas, para o México, os efeitos da crise sobre a economia estão no início. As consequências políticas são ainda uma grande incógnita.

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