São Paulo, terça-feira, 28 de fevereiro de 1995
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Os espiões

O envolvimento da CIA, o serviço secreto norte-americano, na licitação do Sivam (Sistema de Vigilância da Amazônia) sugere uma reflexão sobre o que ocorreu com os principais serviços secretos depois do fim da Guerra Fria.
A espionagem remonta a tempos imemoriais. Os homens nunca hesitaram em usar de todos os ardis para lograr seus objetivos, mas a espionagem tal qual foi consagrada pelo cinema e pela literatura é basicamente a da Guerra Fria.
Na luta das ideologias pós-Segunda Guerra, espiões do Ocidente enfrentavam em todas as partes do mundo seus símiles dos países da chamada Cortina-de-Ferro. Os dois lados defendiam visões de mundo antagônicas e faziam de tudo para tentar descobrir os segredos do rival ou evitar que um território qualquer acabasse caindo sob a esfera de influência da outra potência.
Nesta luta, governos foram desestabilizados, assassinatos cometidos, tudo com a anuência mais ou menos explícita dos dirigentes envolvidos. Estados cometiam crimes e de alguma forma procuravam justificar esses atos porque se lutava em nome de um ideal maior, a liberdade ou a construção do socialismo, dependendo do lado.
Destruído o Muro de Berlim, os espiões perderam seu rumo. Governos já não dispõem do mote ideológico para justificar as gordas verbas destinadas a seus serviços secretos. Os agentes, que como todos temem o desemprego, começaram a se dedicar a outras funções como a espionagem industrial e econômica e o contrabando. É claro que é muito mais difícil para um governo admitir que cometeu um crime por interesses comerciais e não mais pela liberdade.
Ocorre porém que os serviços secretos continuam úteis a seus governos. Na verdade, a disputa política cedeu lugar à disputa econômica. Como se vê, a profissão de espião perdeu o glamour, mas não a sua utilidade.

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