São Paulo, quinta-feira, 2 de março de 1995
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Procuradores sem brio

LUÍS NASSIF

Depõe contra o Estado o que ocorre com o Ministério Público Estadual em São Paulo.
No passado, houve o atrelamento de procuradores aos governos Quércia-Fleury, comprometendo a instituição. Um grupo de procuradores insurgiu-se contra esse quadro. Ocorrida a reviravolta na política do Estado, essas mesmas lideranças que criticavam o atrelamento do MPE ao Executivo correm a se aboletar em cargos no governo do Estado.
O governador Covas, que é homem de princípios, não deveria abrigar falta de caráter em seu governo. Se veio para renovar os hábitos políticos do Estado, deveria instituir imediatamente o princípio da independência entre os Poderes, acabando definitivamente com a cooptação que caracterizou as gestões passadas.
E os demais procuradores deveriam demonstrar brio, responsabilidade e respeito à própria instituição, insurgindo-se contra essas práticas oportunistas.
Não há nada de mais depreciativo para uma instituição do que servir de trampolim para cargos externos, principalmente quando se usa como gazua para abrir o espaço político justamente o discurso da independência e da despolitização do órgão.
Práticas como essas diminuem a instituição, nublam o foco de atenção do procurador e destroem o espírito de corpo sadio. Nada de grandes ações, que possam comprometer cooptações futuras. Nada da ambição saudável de inscrever o próprio nome na história da instituição, ou de começar e terminar sua vida profissional sendo sempre procurador.
Não é por outro motivo que, apesar de todo o alarido da antiga oposição, as figuras mais notórias do esquema quercista —os Rayel e os Fernandes— continuam usufruindo do dinheiro que ganharam no poder, porque os processos estão paralisados por questões prosaicas. Uma instituição que transformou a politização em objetivo principal vai lá ter tempo de se preocupar com questões comezinhas —como cumprir com responsabilidade seus deveres?
Se a profissão de procurador é insuficiente para a ambição dessas pessoas, que mudem de profissão. E parem de se utilizar do cargo como degrau para funções externas.

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