São Paulo, quinta-feira, 2 de março de 1995 |
Próximo Texto |
Índice
Massieu teria atrapalhado Salinas
DAS AGÊNCIAS INTERNACIONAIS Francisco Ruiz Massieu teria sido morto porque interferia nos projetos políticos da família de Carlos Salinas de Gortari, então presidente do México.A hipótese foi aventada pelo subprocurador mexicano Pablo Chapa, encarregado da investigação do assassinato do secretário-geral do PRI (Partido Revolucionário Institucional), ocorrido em setembro passado. Chapa ordenou anteontem a prisão de Raúl Salinas, irmão do ex-presidente, como suspeito de ser o principal mandante do crime. Segundo nota oficial da Procuradoria Geral da República, o motivo do crime não foi determinado. É importante ressaltar que isso será conhecido ao término do processo, diz a nota. Reagindo às declarações de Chapa, o ex-presidente Carlos Salinas disse que confiava na inocência de seu irmão. Ele disse ainda que o motivo aventado por Chapa não procede porque Massieu era parte do salinismo. A Procuradoria diz ter provas de que Raúl Salinas foi o mandante do crime. O deputado do PRI Manuel Muñoz Rocha, antes considerado o mandante, esteve em contato com Raúl antes e depois do crime. Mu¤oz está desaparecido desde então. Especula-se que ele também teria sido assassinado. Massieu teria sido morto por fazer parte da ala reformista do PRI, partido que está no poder há mais de 65 anos. O crime teria sido orquestrado por integrantes da ala anti-reformas do partido. Essas eram as conclusões de Mario Ruiz Massieu, irmão do assassinado, que era subprocurador encarregado do caso no ano passado. O atual subprocurador disse que Mario Massieu será citado por crimes conexos cometidos durante sua investigação. A citação foi encarada por comentaristas políticos mexicanos como um presente para o PRI. Pouco antes de renunciar ao cargo de subprocurador e à sua filiação ao PRI, Mario Massieu havia acusado Ignacio Pichardo, então presidente do partido, e Maria de los Angeles Moreno, então secretária-geral, de opor obstáculos à investigação. Ele não apresentou provas da denúncia. Mario Massieu disse que a Justiça se mostrava kafkiana: Pode-se matar o irmão de uma pessoa, confiar-lhe a investigação do crime e depois citar-lhe como indiciado". O engenheiro civil Raúl Salinas, 48, formou um império econômico à sombra do poder de seu irmão presidente, segundo a imprensa mexicana. Ele era tido como eminência parda do governo de Salinas (1988-94). Atribui-se a ele a criação do programa Solidariedade de combate à pobreza. O projeto teria sido idealizado, segundo opositores do regime, para ganhar votos em áreas dominadas pela oposição. Raúl foi acusado de ter se beneficiado dos fundos do programa. Ele é também apontado como o criador de grupos de choque usados na repressão a organizações de trabalhadores rurais. Como empresário, Raúl Salinas foi acusado de monopolizar importações de alimentos como leite em pó, carne e açúcar e de, graças a isso, manipular os preços. Em abril de 1994, um intermediário britânico acusou-o de ter recebido propina para fazer a Mitsubishi a vencer a concorrência para ampliação de uma refinaria de petróleo. Políticos de esquerda dizem que ele foi beneficiário da privatização de bancos estatais. Raúl Salinas disse que são " acusações falsas, tendenciosas, isoladas e sem a menor intenção de comprovação". Corrupção O vice-ministro mexicano da Agricultura, Jaime de la Mora, foi preso ontem. Ele é acusado de um desfalque de US$ 15 mil quando era diretor do Banrural (Banco Nacional de Crédito Rural), estatal. De La Mora seria um dos integrantes do grupo político de Raúl Salinas e Manuel Muñoz. Próximo Texto: País vive ruptura do governo atual com anterior Índice |
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress. |