São Paulo, quinta-feira, 2 de março de 1995
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De Chiapas a Chapa

DE CHIAPAS A CHAPA

Se a crise econômica mexicana está longe de um final feliz, do ponto de vista político a crise mal começou —e pode atingir proporções alarmantes. Aliás, a politização da crise é crescente e nas próximas semanas estará em questão a estabilidade das instituições mexicanas.
A inflexão surge com as declarações do subprocurador especial Pablo Chapa, responsável pela investigação do assassinato do ex-secretário-geral do Partido Revolucionário Institucional (PRI), José Francisco Ruiz Massieu. Chapa está incriminando ninguém menos que o irmão do ex-presidente Salinas, Raúl Salinas, já recolhido à prisão.
Na tradição política mexicana, dominada nos últimos 68 anos pelo PRI, o presidente eleito nunca abre a "caixa preta" da gestão anterior. A prisão do irmão de Salinas é vista como ruptura frente a esse padrão. É sintoma de radicalização nos conflitos entre as facções do partido dominante. Também é evidente que o episódio trai o empenho do presidente Zedillo em jogar sobre as costas da administração anterior toda a responsabilidade pela crise.
Entre as consequências mais imediatas da politização da crise mexicana está a virtual inviabilização da candidatura Salinas à presidência da recém-criada Organização Mundial do Comércio (OMC), para a qual se candidatara também o ex-ministro da Fazenda brasileiro, Rubens Ricupero. Autoridades norte-americanas já admitem rever seu apoio ao mexicano. A disputa ficará restrita aos candidatos da Itália, o ex-ministro Renato Ruggiero, com apoio da União Européia, e da Coréia do Sul, o embaixador Kim Chul-Su, apoiado pelos países do Pacífico asiático. Perdem as Américas, em especial a América Latina.
Quanto aos desdobramentos puramente econômicos da crise mexicana, as nuvens também estão cada vez mais carregadas. Na Argentina já se fala também em quebra de empresas endividadas. O espectro de juros reais crescentes e de processos recessivos em importantes economias latino-americanas turva o horizonte. Outros Chiapas não estão fora de cogitação.

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