São Paulo, quinta-feira, 2 de março de 1995 |
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Sexo, jogo e show biz são as tentações de Las Vegas
NELSON BLECHER
A confirmar essa impressão, a cidade ainda abriga o Flamingo, célebre hotel erguido pelo delirante Bugsy. Endividado por trapaças da amante, o gângster pagou a obra com a vida. A megalomania chega a desorientar, principalmente se você se hospedar no hotel MGM. São 5.600 quartos e centenas de caça-níqueis espalhados no cassino que domina o andar térreo. Acordes de realejo eletrônico provocam ruídos em cascata, ensurdecedor. Jogo e sexo —as tentações locais piscam nos luminosos de néon a turistas naturalmente dispostos a perder um pouco de dinheiro desde a chegada ao aeroporto, após 40 minutos de vôo procedente de Los Angeles. Megahotéis temáticos funcionam como chamariz para atrair visitantes da classe média —bem-sucedida jogada de marketing para apagar a fama de barra pesada que afastava as famílias. A cada hora e meia basta se debruçar na mureta em frente ao hotel Ilha do Tesouro para assistir à realista exibição de um combate colonial entre piratas e espanhóis. A exibição dura 13 minutos. A pólvora dispara de canhões a bombordo de réplicas de navios que se movem num trilho submerso. Nos jardins ao lado, um vulcão entra em erupção e levanta chamas de arrepiar. Mais desconcertante é a visita ao shopping do hotel Caesar. O cenário é de praças romanas. Uma abóboda iluminada provoca a ilusão de ótica de crepúsculo. Apesar dos esforços para injetar um pouco da inocência à la Disney e Spielberg, o sexo continua sendo farta e profissionalmente oferecido em anúncios de revistas coloridas com apelos do tipo "basta chamar que ela irá ao seu quarto". O texto não esclarece se o preço anunciado —entre US$ 100 e US$ 150— se refere a uma exibição de nudismo erótico ou o pagamento inclui sessão de "fast-sex". Os cassinos são tão impressionantemente espaçosos que, ao se ingressar neles, perde-se a referência de tempo e os limites individuais são aniquilados. Parecem concebidos com esse fim. Não se avista janela. E a única porta que se abre é a da esperança. Acompanho à distância uma velhinha solitária que, a cada vez que vence a mesquinha máquina, exibe sorriso revanchista e recolhe as fichas num baldinho de papelão para trocar por dólar sonante. A roda da fortuna não para. Que estranho fascínio atrai aquele grupo de orientais que, às 10h, sol escancarado lá fora, inicia rodada de aposta? Mergulhadas no "fumacê" de cigarros e charutos —a salvo das brigadas antifumo—, as pessoas recebem cartas dos crupiês fantasiados com impecáveis jaquetões negros. E há apostas para todos os gostos: roleta, bingo, boxe e até corrida de cachorros transmitidas no circuito de TV. Se tiver azar no jogo, pode tentar a sorte no amor —estão lá as empresas casamenteiras que fornecem de véu e grinalda a sacerdote e fotos para os netos. O matrimônio é realizado em um salão que imita uma capela. Dois espetáculos brilham na noite, assegurando a tradição do show business. O primeiro, de dois mágicos autênticos. O outro se vale da magia onírica com que a trupe canadense do circo de Soleil —aquele que o "Fantástico" costumava exibir nas noites de domingo— apresenta seu "Mystère". Las Vegas não é como o cinema mostra. É muito maior. LEIA MAIS Sobre Las Vegas nas págs. 6-10 e 6-11. O jornalista NELSON BLECHER viajou a convite da Playtronic e Nintendo. Texto Anterior: Temporada de pesca recomeça este mês Próximo Texto: Stripteases "acendem" boate Palomino Índice |
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