São Paulo, quinta-feira, 2 de março de 1995
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Cidade é fundo para sagas de derrotados

EDSON FRANCO
DA REPORTAGEM LOCAL

Roteiros que narram sagas de derrotados é o bordão de Hollywood quando Las Vegas é o pano de fundo da trama. Essa autofagia encontrou a sua mais completa tradução em "Bugsy" (1991).
Benjamin "Bugsy" Siegel (Warren Beatty) é o gângster que troca Chicago por Hollywood, se encanta pelo mundo cinematográfico —que conhece via seu amigo, o ator George Raft (Joe Montegna)— e quer levar esse mundo para o meio do deserto de Nevada, mais exatamente em Las Vegas.
Investe US$ 6 milhões na montagem de um cassino. A abertura desastrosa da casa de jogo é apenas a primeira das desgraças que afligem Siegel. A má sorte chegou a afetar o filme em si.
Nomeado para dez Oscars em 1991 (inclusive os de melhor filme, ator e diretor), o filme só levou dois: os de melhor figurino e melhor direção de arte.
Em "Lua-de-Mel a Três", Nicolas Cage resolve se casar com Sarah Jessica Parker em Las Vegas. Na cidade, dá o azar de conhecer o jogador James Caan.
Cage perde US$ 65 mil no pôquer para Caan, que troca a dívida por um fim-de-semana com a namorada do perdedor. Para não correr riscos de derrotas, Caan passa os dois dias com Parker no Havaí. Mas aí ele volta para Las Vegas e dá sopa para o azar.
História parecida acontece em "Proposta Indecente". A cidade é a mesma, só mudam os valores da transação. Quebrados financeiramente, Woody Harrelson e sua mulher, Demi Moore, pegam seus últimos US$ 5 mil e vão para Las Vegas tentar a sorte. Se dão mal.
Aparece o milionário Robert Redford oferecendo US$ 1 milhão por uma noite com Moore. E então a platéia tem o prazer de assistir pessoas de respeito fazendo coisas nada respeitosas.
Mas falta de respeito mesmo é aquela que os roteiristas da série "Rocky" têm com o espectador. Além das tramas maniqueístas —especialmente a partir do segundo episódio—, as histórias não têm qualquer compromisso com a plausibilidade.
A única exceção é "Rocky 4", que mostra uma luta de boxe superproduzida em Las Vegas. Com show de James Brown e tudo.
Só um herói imune a derrotas poderia sobreviver ao poder destrutivo de Las Vegas. Existiram dois e eles atendiam pelos nomes de Sean Connery e Elvis Presley.
Como o eterno 007, Connery vive uma das tramas mais complicadas em "Os Diamantes São Eternos". A impressão é que não importava o número de bandidos mortos. Sempre faltaria mais um.
Como na maioria de seus filmes, em "Viva Las Vegas" Elvis é o gostosão que se dá bem, desta vez ao volante de um carro de corrida. Mas, pela primeira vez, ele encontrou em Ann Margret uma atriz capaz de rivalizar com ele em talento musical e carisma sexual.

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